O mundo ainda está debatendo as conseqüências do gesto de aproximação de Barack Obama com o regime castrista em Cuba. Na seqüência da série de Reportagens Especiais a condecoração a Che Guevara por Jânio Quadros.
MEMORANDO
Segundo memorando do presidente Jânio Quadros, datado de 22 de agosto de 1961, três dias após a condecoração do líder revolucionário Ernesto Guevara, o intento da entrega da ORDEM DO CRUZEIRO DO SUL eram: a) a necessidade de CUBA manter-se na família continental, b) a necessidade de evitar o aparecimento do problema religioso, com a violência contra a igreja católica.
A CONDECORAÇÃO
Em junho de 1961 o ministro das relações exteriores do Brasil, Afonso Arinos recebe da Santa Sé uma nota, entregue pessoalmente pelo núncio, Monsenhor Armando Lombardi. Na nota a Santa Sé pede ao ministro atenção para as perseguições religiosas que começavam a se desenvolver em Cuba, inclusive com a prisão de Bispos. A nota que procurava evitar que Cuba se desgarrasse para a órbita soviética era seguinte:
Embora não mantenha relações diplomáticas com os Estados Unidos, a Santa Sé poderá contudo estudar a possibilidade de fazer chegar ao governo desta nação, por intermédio de um membro influente da hierarquia eclesiástica, uma palavra de recomendação, a fim de que considere a questão com a maior boa vontade. Nas circunstâncias atuais , a Santa Sé, ainda uma vez não pode deixar de revelar e deplorar vivamente a situação da injustiça e perseguição movida contra a igreja em Cuba, e a necessidade – também para a causa da paz – de ser restabelecido naquele país o respeito aos direitos fundamentais do homem, inclusive os religiosos e dos direitos da Igreja católica e de serem reparadas as injustiças gravíssimas cometidas contra pessoas e instituições da igreja, especialmente com a lei de nacionalização das escolas particulares, promulgadas nos últimos dias do mês de junho de 1961.
Esta nota do núncio vinha acompanhada de minucioso memorando da secretaria de estado do Vaticano. Aproveitando a passagem de Guevara por Brasília (vindo de Punta Del Este – Uruguai) o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Afonso Arinos remeteu ao Presidente Jânio Quadros uma proposta de carta a ser enviada ao governo cubano – ao primeiros ministro Fidel e ao presidente Dórticos, instando pela cessação das perseguições religiosas. Jânio Quadros aprovou-a e passou-a a Guevara , que se prontificou a ser seu portador.
Esta foi uma das razões da outorga da condecoração. Guevara que a época era ministro atendeu o apelo de Jânio Quadros e ordenou a libertação de mais de vinte sacerdotes presos em Cuba, que estavam condenados ao fuzilamento, exilando-os na Espanha.
O CONTRADITÓRIO QUADROS
Jânio Quadros acreditava que a aproximação com o líder revolucionário Castro e a condecoração do fidelista Ernesto Guevara resultaria em dividendos em sua política exterior. As consequências destes atos foram mal calculadas por Jânio. Na véspera da cerimônia de entrega da condecoração houve a insubordinação da oficialidade do Batalhão da Guarda que se recusava a acatar as ordens de formar as tropas defronte ao Palácio do Planalto. Somente a poucas horas da cerimônia, os oficiais superiores convenceram os comandantes da guarda a se enquadrar. Na imprensa e no Congresso surgem protestos de desagravo contra a condecoração de Guevara.
Jânio adota uma Política Externa Independente, que pretendia estabelecer relações comerciais e diplomáticas com todas as nações do mundo que manifestassem interesse num intercâmbio pacífico.
Envaidecido pelo ato diplomático independente frente ao americanos, Jânio oferece apoio ao regime de Fidel Castro. Regime que afirma, em mais de 50 anos, que a riqueza é concebida como um bolo que só precisa ser bem repartida para que se acabe a pobreza. Castro fez isso: dividiu o que havia em Cuba e, com exceção da burocracia dirigente, que tem todo tipo de privilégios, os cubanos da ilha tornaram-se todos pobres.