terça-feira, 19 de março de 2024
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Michael Jackson: a morte e as mentiras

Caixão de Michael Jackson é carregado por seus irmãos e ex-parceiros de banda juvenil em cerimônia de despedida no Staples Center, em Los Angeles (2009) - foto de MARIO ANZUONI / UNITED PRESS INTERNATIONAL
Caixão de Michael Jackson é carregado por seus irmãos e ex-parceiros de banda juvenil em cerimônia de despedida no Staples Center, em Los Angeles (2009) – foto de MARIO ANZUONI / UNITED PRESS INTERNATIONAL

O Anúncio: no dia 5 de março de 2009, em Londres, uma platéia de sete mil idólatras e 350 jornalistas ávidos por um furo de reportagem presenciaram a aparição da figura do Rei do Pop, Michael Jackson (MJ). O público da capital inglesa ouviu da voz de seu ícone o anúncio de uma explosiva e derradeira turnê batizada de This Is It.

“I just wanted to say that these will be my final show performances in London. When I say this is it, it really means this is it. (Eu só queria dizer que essas serão minhas últimas apresentações em Londres. Quando eu digo que ‘é isso aí’, realmente quero dizer que ‘é isso aí’).

Michael exalava animação durante os minutos que esteve em cima do palanque, porém, aqueles que conseguiram captar as nuances além da empolgação do fato perceberam a composição corporal de Michael Jackson frágil, revelando sintoma de alguma doença e escancarando que a turnê não teria MJ na primazia de sua forma física.

Um Corpo

112 dias após o anúncio, um corpo inconsciente em uma maca adentra o UCLA Medical Center, em Los Angeles. Seu médico particular, Conrad Murray, acompanhava atônito o trabalho dos enfermeiros. Conrad afirmava que encontrou o corpo do artista inconsciente e quase sem pulso em sua mansão em Holmby Hills, bairro residencial abastado de LA. O médico acrescentou que tentou uma reanimação cardíaca, mas diante da falta de reação do cantor, acionou o serviço de emergência.

Um dos empregados da mansão ligou para o 911 informando que havia uma pessoa desacordada na mansão na Carolwood Drive. Confirmado o estado grave após uma série de questionamentos protocolares feito pelo atendente, foi levantada a possibilidade de uma reanimação, no entanto, ao saber do empregado que havia um médico particular na residência, o procedimento foi descartado em virtude da maior autoridade de um médico perante uma situação daquela natureza.

Fatalmente, às 14h26 da tarde do horário local, Michael Jackson era declarado morto.

Suposições

Se as mortes de celebridades como Elvis Presley, John F. Kennedy e Princesa Diana já receberam diversas versões e teorias alternativas que colocavam em dúvida a verdade, a de Michael Jackson não esperou nem se quer o funeral, realizado em 7 de julho de 2009, para ser inundada de teorias conspiratórias.

Michael Jackson foi assassinado:

Enquanto as expectativas de acusação da promotoria estavam apontadas para o médico Conrad Murray, os tablóides já apontavam um caminho alternativo ao do acidente médico. Relatos de que Michael, em diversas oportunidades anteriores a sua morte, havia dito a família que seria morto, vieram a tona.

“Eles vão me matar.”

Para o grupo de fãs denominado MJ Truthers, as suspeitas de Michael estavam certas, na medida em que sustentam a tese de que nomes poderosos da indústria fonográfica haviam encomendado a morte do intérprete. Algumas declarações de sua irmã, Latoya Jackson, incendiaram as suspeitas. Para o tablóide inglês News of the World, a irmã não exitou em fazer conjecturas.

“Houve uma conspiração. Acho que foi tudo pelo dinheiro. Michael valia mais de US$ 1 bilhão (cerca de R$ 2 bilhões) em ativos por direitos de difusão musical e alguém o matou por isso. Valia mais morto que vivo”, afirmou Latoya dias depois do xerife de Los Angeles considerar assassinato como uma das linhas de investigação.

O grupo MJ Truthers não se atém somente às afirmações da irmã do artista, como também vídeos em que o próprio Michael Jackson demonstra descontentamento com a maneira que era abordado pelas figuras proeminentes da grande mídia e, em uma dessas oportunidades, revela um nome.

“Tommy Mottola, o presidente da gravadora (Sony), ele é mau, é um racista e muito diabólico… As gravadoras realmente conspiram contra os artistas. Elas roubam, trapaceiam e ainda fazem o que for possível.”

Michael Jackson discursa contra Tommy Mottola, então presidente da gravadora Sony, na companhia de Al Sharpton, em Nova York (2002) - foto de EZIO PETERSEN / UNITED PRESS INTERNATIONAL
Michael Jackson discursa contra Tommy Mottola, então presidente da gravadora Sony, na companhia de Al Sharpton, em Nova York (2002) – foto de EZIO PETERSEN / UNITED PRESS INTERNATIONAL

Em 2013, a produtora AEG Live foi citada em um processo movido pela família de Michael Jackson, por pressionar o cantor a ritmos extenuantes de ensaio durante a preparação para a turnê This Is It, ignorando o quadro de saúde debilitado do artista. Inclusive, rumores apontam que a produtora AEG Live tinha um contrato de 150 mil dólares com o Dr. Conrad Murray. Informação negada pela produtora ao noticiário americano ABC News.

As declarações, os desentendimentos entre Michael Jackson e seus contratantes e o relacionamento controverso com o Dr. Conrad Murray alimentam a tese de que MJ foi vítima de uma conspiração que resultou em sua morte.

Michael Jackson está vivo:

Quem acredita que a morte do artista foi uma farsa, agarra-se a vídeos suspeitos, fotos tiradas por tabloides e rumores esparsos, mas o questionamento mais em voga se deposita na demora em que a autópsia foi divulgada – um prazo de dois meses.

Um vídeo que flagrou imagens de MJ saindo da ambulância e caminhando após chegar à garagem do hospital ganhou holofotes após sua divulgação em 2009.

Fotos do mesmo momento foram tiradas do lado de fora da ambulância, mostrando o cantor recebendo os primeiros atendimentos da equipe médica, apesar da película escura que protegia os vidros. A nitidez das fotografias perante as circunstâncias que supostamente dificultariam uma foto em alta qualidade abastecem as suspeitas em torno da morte do popstar.

Boatos apontam até mesmo que Michael Jackson compareceu e organizou o próprio enterro.

A verdade:

Qualquer fato envolvendo eminências artísticas ou estrelas do supérfluo show business é capaz de gerar as mais variadas discussões, das relevantes às irracionais, e no caso de Michael Jackson não foi diferente. O inconsciente coletivo foi inundado de boatos fantasiosos, muito facilmente disseminadas nos meios de comunicação digitais, mas, apesar de tudo que foi levantado neste escrito, a verdade é que Michael Jackson morreu em 2009.

Aqueles que acreditam que o cantor ainda está vivo em algum lugar, ignoram que o nível de detalhamento do relatório da autópsia do corpo de cantor, que foi levada a público pelo Instituto Médico Legal de Los Angeles no dia 9 de fevereiro de 2010. No documento há descrições detalhadas da doença dermatológica que Jackson vinha escondendo, a vitiligo. Manchas brancas foram contabilizadas em seu abdômen, rosto, braços e peitoral. O relatório ainda detalha a razão do penteado pouco habitual do cantor. O cabelo que era visto em público, na verdade, era uma peruca grudada no cabelo original, este cacheado e grosso, e ainda escondia uma calvície frontal. Tais aspectos não poderiam ser levantados se não houvesse de fato um corpo no necrotério a ser examinado. Ilusório acreditar na hipótese de toda a equipe de legistas ter sido coagida a manter uma fraude desta natureza.

A parte os pormenores estéticos, a descrição do relatório aborda que a autópsia concluiu que a morte do cantor foi causada por uma intoxicação decorrente de uma superdosagem do medicamento Propofol, contrariando a versão apresentada pelo Dr. Conrad Murray. Além disso, Jackson tinha várias costelas quebradas, possivelmente, em função das tentativas de ressuscitação.

As dúvidas que restaram ao júri promulgadas pela imprensa a respeito de quem era a culpa da morte de Jackson foram sanadas após um longo e atrasado julgamento. Sob o banco dos réus, o Dr. Conrad Murray, segurava a defesa de que o cantor havia cometido suicídio injetando o medicamento propofol sem a anuência do médico.

Julgamento na Corte de Los Angeles onde o Dr. Conrad Murray ouviu sua sentença (2011) - foto de KEVORK DJANSEZIAN / THE NEW YORK TIMES
Julgamento na Corte de Los Angeles onde o Dr. Conrad Murray ouviu sua sentença (2011) – foto de KEVORK DJANSEZIAN / THE NEW YORK TIMES

A tese de defesa não foi aceita pela júri. No dia 29 de novembro de 2011, o juiz Michael Pastor leu a sentença declarando Conrad Murray responsável pelo homicídio culposo do cantor Michael Jackson através de uma overdose de Propofol. Fãs de astro celebraram a decisão nos arredores da Corte de Los Angeles.

A cadeia de eventos que terminou na morte do cantor, teve origem em um dívida milionária no nome de Michael Jackson. Das afirmações de um banqueiro contratado para ajudá-lo a mitigar a dívida, Jackson comprava supérfluos de maneira descontrolada e tinha problemas em administrar o rancho Neverland. A falta de tino financeiro do artista o levou a um abismo de endividamento: 400 milhões de dólares negativos.

Já tendo que vender o rancho e ainda tendo lançado mão de cifras milionárias para se livrar dos processos de escândalos sexuais em 2005, MJ idealizou uma enérgica turnê de 50 shows na Inglaterra para se recuperar dos desfalques financeiros e recuperar o posto de Rei do Pop. A turnê This is It teria início no dia 13 de junho de 2009 e, desde que o anúncio oficial foi feito, um motivado Michael Jackson disciplinou-se a cumprir uma rotina de ensaios, porém, os 12 anos fora de atividade e os problemas de saúde vieram a tona tão logo os ensaios se tornaram mais intensos.

Era cristalino que Michael não tinha mais o vigor de antes, mostrava sinais de falta de preparo físico, parecia sem fôlego e não conseguia acompanhar o ritmo dos bailarinos. A autópsia do cantor revelou artrite na coluna e inflamação nos pulmões, apesar do coração estar em ótimo estado.

Durante seus últimos dez anos de vida, Michael Jackson viveu sob uma incomum rotina de medicação e cuidados de saúde do Dr. Conrad Murray, começando por aplicações de anestésicos, remédios para insônia e até sondas para urinar na cama sem ter o sono interrompido. Uma pressão interna por sucesso e lucros financeiros concatenada a um estado de saúde no fio da navalha e a conduta irresponsável por parte de seu médico terminaram na morte do astro do pop.

Dr. Conrad Murray negou todas as acusações ao jornal inglês The Daily Mail, na sua primeira entrevista desde que saiu da prisão, em novembro de 2013.

“Eu não matei Michael. Ele se matou com uma dose cavalar de analgésicos de sua reserva pessoal. Ele me implorava pelo remédio porque queria dormir, porque não queria pensar. Ele estava em crise no final da vida, tomado pelo pânico e desolação.”

Este ano, completa-se uma década da morte do cantor.

Michael Jackson - foto de KARL SCHOENDORFER
Michael Jackson – foto de KARL SCHOENDORFER
Lucas Lôbo
Lucas Lôbo
Analista de Redes de Fortaleza (CE) autor de crônicas e artigos
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