O embaixador do Brasil na Coreia do Norte está de passagem por Blumenau e concedeu uma entrevista ao Farol Blumenau. Roberto Colin comentou a atual situação do pais comunista após a execução do que ele considera a segunda pessoa mais importante do regime, Jang Song-Thaek, tio do líder norte-coreano Kim Jong-un. O embaixador comentou a notícia de Pyongyang que repercutiu no mundo.
Comunismo de mentirinha?
Segundo Colin, existe fatos curiosos na Coreia. Um deles é que na capital do país já é possível ver carros da Mercedes, Jaguar e Bentley. O embaixador ressalta que elite está enriquecendo, mesmo que a constituição coíba a propriedade privada. “O que pouca gente sabe é que aquele país já não é comunista a muito tempo. A economia planificada já não existe”, destacou.
Confira a entrevista exclusiva concedida a equipe do Farol:
FB: Com morte de Jang Song-Thaek, o mundo ficou em apreensão. Como você vê essa situação?
Roberto Colin: Eu vejo essa prisão, expulsão e finalmente execução como o último passo, ou o passo mais importante para a consolidação do poder de Kim Jong-un. Ele era a segunda pessoa mais importante do regime, marido da tia de Kim. O que não se sabe exatamente é se esse fato significa que havia incertezas, divisões graves e se o poder do líder estava em perigo ou não. Eu acho que não. Acredito que o fato de o tio começar a ter uma agenda própria e ter se tornado politicamente poderoso fez ele se descuidar e cruzar a linha vermelha.
FB: Para chegar ao ponto de cruzar a “Linha Vermelha”, deve ter feito algo grave, não é mesmo?
Roberto Colin: Eu não descarto que seja algo pessoal. Além das objeções políticas e econômicas, já era sabido que ele estava afastado da tia de Kim há muito tempo, e acredito que o Líder não tomaria essa decisão sem o consenso da tia.
FB: Você acredita que o julgamento, que culminou na decisão da execução, foi teatral?
Roberto Colin: A decisão já foi tomada a muito tempo. Ele estava sendo observado a tempos. Mesmo na União Soviética, onde fui embaixador também, eram feitas execuções, mas não com essa teatralidade. Acredito que tenha sido feito de forma proposital para mandar um recado aos opositores ao regime. Nem o próprio tio se safou do poder. Por outro lado, demonstra que o poder pode não ser tão uno como parece, pois até no alto escalão houve traição.
FB: No Brasil temos informações que os coreanos sofrem com o racionamento de comida, isto é real?
Roberto Colin: Sim. De Pyongyang, que concentra três dos 24 milhões de coreanos, podemos dizer que é uma cidade normal. Os cidadãos parecem estar bem alimentados, mas, as pessoas não moram onde querem, e a cidade concentra só a elite. Lá tem até restaurantes, lojas e parques. Mas o restante do país vive no século 19, com a agricultura manual, arado puxado a bois, também é possível notar que a alimentação é precária. Até hoje, 30% das crianças sofrem de subnutrição. O país já foi muito melhor, até mais que a Coreia do Sul, mas hoje sofre um retrocesso.
FB: Qual o motivo da visita a Blumenau?
Roberto Colin: É o amor por minha cidade natal. Todos os anos venho aqui, mas devo confessar que é também para fugir do frio. Meu filho, que viajou pelo mundo comigo, e não tinha uma “identidade”, agora decidiu que é blumenauense. Disse que os dois lugares que mais gosta no mundo é Blumenau e Itapema. Acho que foi de tanto eu falar desta cidade.