terça-feira, 19 de março de 2024
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1822 / 2022 – Bicentenário da Independência

D. Pedro I decide-se pelos brasileiros

Carreguemos as tintas da época no intento de compreender o processo de INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Em fins de 1821 já se vislumbrava a marcha do país para a emancipação política. As tendências iam-se radicalizando progressivamente. A uns só satisfazia a completa independência do Brasil e a outros só a total submissão às Cortes de Lisboa.

A autoridade política do Príncipe Regente limitava-se, na prática, ao Rio de Janeiro, a Santa Catarina e ao Rio Grande do Sul, pois na maior parte das Províncias predominava a ideia de obediência ao governo lisboense. Tão grandes eram as contrariedades de D. Pedro que ele chegou a solicitar ao pai autorização para retornar a Portugal.

Não faltaram, entretanto, brasileiros e mesmo portugueses simpáticos à nossa causa, que procuraram prestigiar e auxiliar o Regente, mostrando-lhe a insensatez de tentar recolonizar o país.

No Rio de Janeiro a situação deteriorava-se rapidamente. Os Ministros da Regência irritavam-se com facilidade e estavam divididos. D. Diogo de Menezes – o Conde de Louzã –, insuflou a tropa portuguesa contra os brasileiros. Exaltavam-se os ânimos e aproximava-se o momento em que o Regente teria de decidir entre brasileiros ou portugueses. A oficialidade da Divisão Auxiliadora apoiava os lusitanos.

Não escondia D. Pedro a preferência pelo Brasil. Inteligente e corajoso, resolveu enfrentar a arrogância dos militares portugueses e decretou o recrutamento geral para a organização de unidades com tropa brasileira. A medida despertou indignação e protestos.

Em Lisboa, as Cortes rejubilaram-se com o regresso de D. João, submisso e humilhado. As manifestações políticas adversas ao Brasil aumentaram de intensidade, como se podia constatar pela grande quantidade de decretos de Lisboa.

Reagiram os brasileiros a esse estado de coisas. A exaltação dos ânimos atingiu um ponto culminante quando chegaram de Portugal os decretos nºs 124 e 125, suprimindo os tribunais do Rio de Janeiro e ordenando o regresso do Príncipe “para viajar na Europa e aprimorar a sua educação na França, Inglaterra e Espanha”.

Inúmeras entidades políticas, governamentais e privadas subscreveram moções solicitando a permanência de D. Pedro. Ele, no entanto, hesitava, antevendo as grandes repercussões de sua atitude. A 5 de janeiro de 1822, chegou a representação de Minas Gerais, trazida pelo Presidente da Junta, Desembargador Fonseca Vasconcelos. No dia 8, a Gazeta Extraordinária publicou a representação da Junta de São Paulo. O dia 9 de janeiro foi marcado para a audiência de entrega da petição dos fluminenses. José Clemente Pereira, Presidente do Senado da Câmara (hoje Câmara dos Vereadores), pronunciou um discurso histórico em que destacava que “a partida de Sua Alteza Real seria o decreto que teria de sancionar a independência do Brasil”.

Emocionado, o Príncipe deu uma resposta evasiva, sem definir sua posição. Percebendo o clamor popular, mandou chamar José Clemente à tarde e determinou que riscasse do Livro de Vereança a resposta dada inicialmente e registrasse o seguinte: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, diga ao povo que fico”.

SURGE UM EXÉRCITO COMANDADO POR BRASILEIROS

A decisão representava um desafio às Cortes. Os oficiais da Divisão Auxiliadora procuraram esconder momentaneamente a indignação que sentiam. Contrariados também ficaram os partidários da recolonização.

O Príncipe Regente, decidiu preparar-se para se antepor à afrontosa oposição que lhe faziam.

Mandou aceitar voluntários na Província do Rio de Janeiro e escreveu aos governos de São Paulo e Minas Gerais solicitando reforços.

No Rio de Janeiro e arredores os cidadãos válidos, de todas as classes, acorreram aos quartéis, disputando o direito de alistar-se no Exército do Príncipe.

Em poucas horas formou-se uma legião, vibrante de patriotismo, clamando guerra ao insolente estrangeiro. Mais de 6 mil homens, incluindo padres, pegaram em armas.

Criava-se assim, por força de circunstâncias especiais e fortuitas, uma Força Terrestre integrada por brasileiros e com aspirações genuinamente nacionais. Era o Exército brasileiro que tomava forma.

INDEPENDÊNCIA OU MORTE!

Embora o Marechal Cândido Xavier de Sousa, paulista mandado de Santos para pacificar São Paulo, informasse ter cumprido a missão e o Regente tivesse demitido o Presidente da Junta, esta rogou a D. Pedro que estabelecesse na Província um governo semelhante ao de Minas Gerais e informou que eram infundadas as desconfianças para com o governo local.

O Príncipe resolveu ir pessoalmente a São Paulo, saindo do Rio de Janeiro a 14 de agosto de 1822. O percurso era longo e acompanhava o vale do Paraíba. Na capital paulista, D. Pedro foi muito bem recebido. Visitou Santos e quando regressava a São Paulo recebeu, nas proximidades do riacho Ipiranga, na tarde de 7 de setembro, o correio de José Bonifácio, Paulo Bregaro, que trazia importantes despachos de Lisboa, com comunicações e comentários do Deputado Antônio Carlos, dos Ministros e da Princesa Leopoldina. Os documentos continham restrições humilhantes adotadas pelas Cortes, diminuindo a autoridade do Regente, anulando a convocação do Conselho de Procuradores Gerais das Províncias e nomeando novo ministério para o Brasil.

Anexos estavam também um decreto que mandava processar o governo de São Paulo e os signatários das petições de permanência de D. Pedro, uma carta de D. João VI revelando claramente que sofria coação e vários outros documentos oficiais e particulares.
Segundo várias testemunhas, depois de ler a documentação D. Pedro pediu a opinião do Padre Belchior e recebeu a sugestão de tornar o Brasil independente de Portugal. Convocou, naquele mesmo momento, todos os participantes do séquito, expôs-lhe a situação e a descabida imposição das Cortes, em relação ao Brasil. Num gesto veemente arrancou do uniforme o laço português, dizendo: “Independência ou morte!”

Com a chegada da comitiva a São Paulo espalhou-se rapidamente a notícia dos acontecimentos à margem do Ipiranga. À noite, no teatro local, D. Pedro foi aclamado pelo Cônego Ildefonso Xavier Ferreira como primeiro Rei do Brasil.

Eram dias de glória. No Rio de Janeiro, em São Paulo e várias outras partes do país, o povo assistiu a entusiásticas comemorações da proclamação da autonomia brasileira. Mais uma nação soberana surgia no mundo. Não ficaria, entretanto, isenta de sacrifícios e de derramamento de sangue, por essa conquista. Portugal ainda dispunha aqui de muita força política e militar.

Durante as lutas pela Independência, teve origem a Marinha de Guerra do Brasil. Significativamente recebiam o batismo de fogo dois militares que seriam os maiores paladinos da Força Terrestre brasileira: Tenentes Luís Alves de Lima e Silva, que era Ajudante do Batalhão do Imperador, no sítio da capital baiana, e Manuel Luís Osório, que assentou praça a 1º de maio de 1823 na tropa de cavalaria da Legião de São Paulo, a qual integrava as forças de que o General Lecor dispunha para impor o sítio de Montevidéu. Luís Alves tinha 20 anos e Osório apenas 15 anos.

GUATIMOZIM

Os portugueses desejavam a volta do Brasil à condição de Colônia de Portugal e, em face da resistência dos brasileiros a essa perspectiva, os Portugueses começam a exercer maior pressão. Uma das manobras foi a tentativa de obrigar o príncipe D. Pedro a regressar a Portugal, a pretexto de concluir seus estudos, deixando então os brasileiros sem representante legítimo em seu solo.

O episódio mais emblemático que ilustra esta situação foi o envio de tropas portuguesas para levar o príncipe de volta e que, graças à pronta atuação dos maçons que o cercavam, resultou na decisão de D. Pedro por ficar no Brasil e proclamar, em 9 de janeiro de 1822: “Como é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto, diga ao povo que Fico”.

Assim, apesar de revoltados, as tropas Portuguesas retornaram a Portugal, e outras que posteriormente foram para cá mandadas, foram proibidas de desembarcar no Brasil, posto que, acentuava-se o movimento pela Independência e, D. Pedro decretou inimigas as tropas Portuguesas que tentassem desembarcar no Brasil.

Certo é que o movimento pela Independência ganhava corpo, e uma outra contribuição importante seria dada pelo grupo maçônico: A 13 de maio de 1822, o senado da Câmara, atendendo a uma sugestão da maçonaria concedeu o Título de Protetor e Defensor Perpétuo do Brasil, ao Príncipe Regente D. Pedro. Em 13 de junho de 1822, na maçonaria, foi proposto e aceito o nome do candidato Príncipe D. Pedro. Em 17 de Junho de 1822, a Loja Comércio e Artes na Idade do Ouro, desdobra-se em mais duas Lojas, “Esperança de Niterói” e “União e Tranquilidade”, tornando possível a criação do que viria a ser o Grande Oriente do Brasil, onde só se admitia para iniciação e filiação em suas Lojas, quem se comprometesse com o ideal da Independência do Brasil. Em 02 de agosto de 1822, é iniciado o príncipe regente, D. Pedro, adotando o nome histórico de GUATIMOZIM, último Imperador Asteca morto em 1522, passando o príncipe a fazer parte do Quadro da Loja “Comércio e Artes na Idade do Ouro”. Em 05 de agosto de 1822, por proposta de Joaquim Gonçalves Lêdo, que presidia os trabalhos, foi aprovada e feita a exaltação do mesmo ao Grau de Mestre.

Sérgio Campregher
Sérgio Campregher
Sérgio Campregher é historiador pela Uniasselvi/Fameblu e fala sobre política nacional e internacional e curiosidades. Escreve de Blumenau.
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