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Coisas de Blumenau

Não esqueço do primeiro desfile da Oktober que vi. Foi em 2010. Flores, cores, sorrisos, carros tão diferentes quanto engraçados. Música tradicional e as adaptadas para os novos tempos; versões de hits internacionais “oktoberlizados”.

As indumentárias também; uniformes mas não iguais. Todos vestidos de alemão, no entanto diferentes entre si. Muitas crianças, participando e assistindo. Distribuição de copos de chope e cerveja aos adultos e balas e doces à gurizada – como se diz nessas terras do sul.

Pensava eu, de onde havia saído tanta gente para participar do desfile? Quem são essas pessoas? Quem criou e onde foram feitas essas bicicletas malucas e esses carros alegóricos curiosos? E os passinhos, as danças? Quem inseriu essa versão alemã pra esse rock’n roll? Quem bolou essa trama fantasiosa? Quem isso? O que aquilo? Quem aquilo outro?

Com o passar dos anos e a convivência na bela e internacional Blumenau, pouco esforço bastaria para saber as respostas. Mas achei por bem não desvendar esses mistérios, para que eu possa me alimentar deles e continuar admirando o espetáculo.

Mas o que me deixou impressionado mesmo foi o último grupo que participou do desfile: os varredores. Este pessoal apresentou uma desenvoltura mais sincronizada que os que vieram antes. Em linha, não escapava uma bala, um papel, um copo jogado no chão. Nada. E era tudo tão articulado que quem viesse atrás dessa turma, não saberia que por ali passara um grande desfile. Tudo limpo e impecável. E o mais espantoso: uma rapidez de fazer inveja a qualquer paulista quatrocentão.

É o know-how. Muitos anos de festa, dá nisso: desempenho prático, sincronização e esquema de trabalho em equipe. Tudo isso junto deixa tarefa mais fácil e um resultado de primeira.

Outra coisa dessa cidade que me chama a atenção: nunca vi detrito de acidente de trânsito, digo, estilhaços de vidro, pedaços de lanterna, fragmentos de parachoque; essas coisas que sempre ficam nas vias. Vá lá, algum detrito de vez em quando sobra. Mas o normal é estar tudo limpo na cena. Andando de manhã, só percebo que houve acidente na noite anterior, quando vejo postes entortados, marcas de tinta, paredes e muros avariados. Sujeira ao redor, não vejo.

Nesse caso penso na experiência da turma da limpeza dos desfiles da Oktober. Deve ser a mesma estratégia pra turma do trânsito: rapidez e agilidade. Blumenau tem o dobro da média de automóveis do Brasil. Muitos carros, muitos acidentes, e a experiência se transforma em prática. Se houvesse noticiário noturno ao vivo na cidade, a equipe de reportagem teria que ter asas nos pés pra poder transmitir a cena.

Tem mais. Em Blumenau você volta pra casa depois do trabalho e no dia seguinte se depara com um jardim florido onde no dia anterior não havia nada. O trajeto cotidiano tem disso: flores coloridas não obedecem ao tempo. Brotam crescem e florescem de um dia pro outro.

Parece aquela aventura do Axterix: “O Domínio dos Deuses”. Na trama, os romanos tentam construir um condomínio próximo à aldeia dos irredutíveis. Durante o dia cortam as árvores e limpam o terreno. Mas no dia seguinte uma floresta de carvalhos está no lugar do descampado. É que o druida Panoramix, Obelix e Axterix, semeiam sementes secretas à noite. As sementes do druida, ao tocar na terra, crescem instantaneamente e se transformam em carvalhos frondosos.

Já pisei em outros chãos desse Brasil. Estive e morei em outras cidades. Mas só aqui me deparo com essas coisas; boas por sinal. Em meio a tantos problemas como de qualquer outra cidade, aqui tem esses detalhes pra gente falar, comentar e puxar assunto.

Coisas de Blumenau.

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