Outro dia um amigo ressuscitou a Velha do Guarda-Chuva no Facebook — aliás, por onde anda, tadinha? Explico: este meu amigo disse que tem horas que ele tem vontade de sair desferindo guardachuvadas como fazia aquela velhinha nas ruas de Blumenau, pois não aguenta mais ver tanto conflito na rede social. Aí eu fiquei pensando: sabe que ele tem razão? Está tão difícil rolar a timeline e não se sentir frustrado com tanta negatividade…
Veja bem, o Facebook é uma excelente ferramenta. Tanto é que o Brasil é um dos maiores players desta rede social que está revolucionando a comunicação no mundo. De acordo com o Digital News Reuters, o relatório anual sobre jornalismo na web produzido pela maior agência de notícias do mundo, os brasileiros são os que mais chegam até as notícias via redes sociais (70%) — Facebook e Twitter são responsáveis por mais de 90% do tráfego dos portais —, na comparação com outros 12 países. Consumimos e compartilhamos: somos os responsáveis pelo compartilhamento de 47% das notícias que circulam na timeline criada por Mark Zuckerberg. E opinamos… Como opinamos! Nosso índice de comentários nas notícias via redes sociais é de 44% frente aos outros países.
Num primeiro momento, são índices para nos orgulharmos. Também são estatísticas para alertar os meios de comunicação: distribuam notícias nas redes sociais da web, é lá que o povo brasileiro vai para se servir. Só que basta um olhar um pouco atencioso para ver que meu amigo tem razão quando diz que dá vontade de sair sentando o guarda-chuva na cabeça da humanidade.
Já reparou nos conteúdos com os quais as pessoas se engajam? Já observou o teor dos comentários? Quer dizer, a comunicação alcançou um patamar nunca visto antes na história mas parece que as pessoas não a estão utilizando para ampliar sua visão de mundo; o senso comum nunca teve tanto tanto espaço para se mostrar desnudo, despudorado e desavergonhado.
Como comunicador você fica um pouco frustrado, pois é visível que as pessoas não leem as notícias. Elas dão uma escaneada na manchete e na legenda do post e saem opinando sem a menor fundamentação. Julgam os personagens envolvidos na história, insultam os veículos, brigam entre si, enfim, tentam expurgar suas frustrações sem se aprofundar muito no conteúdo — todo mundo já fez algo parecido, inclusive eu e você, mas para muita gente esta tem sido a regra de convívio ali.
Nesta noite das facas longas virtual o que menos importa é o cerne das notícias. Não sobra tempo para analisar os discursos, perceber intertextualidades, pinçar intencionalidades… Não há espaço para o pensamento. A ordem é falar; falar a esmo e partir para o próximo post.
Logicamente, nós os profissionais de comunicação também temos que fazer uma mea culpa. Muita gente da imprensa já percebeu a superficialidade dos envolvimentos do público com o conteúdo e, cada vez mais, as manchetes “caça-cliques” ditam as regras na internet. Você passa horas pesquisando um assunto, conversa com as pessoas, checa a veracidade das informações, enfim, faz tudo como manda o figurino, mas se não criar uma manchete impactante não terá acessos, não verá seu trabalho engajando o público.
Aliás, ao que parece a única coisa que importa é o tal do “engajamento” — o relatório de social media deve estar sempre recheado de números, não importam os resultados sociais do conteúdo; não importa se as pessoas entenderam o que foi narrado, o que importa é o tal do engajamento, os números.
Aí, meu caro, neste temporal de superficialidades, melhor se defende quem tem o guarda-chuva mais resistente.
Conte-me: você já fez ou já teve vontade de fazer a Velha do Guarda-Chuva no Facebook hoje?