sexta-feira, 13 de dezembro de 2024
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Blumenau

Quando Elis cantou na noite blumenauense

(…)♫ Não quero lhe falar Meu grande amor; Das coisas que aprendi Nos discos (…)♫

Em um novembro que não decidia em fazer frio ou calor, Elis Regina incendiou uma plateia de jovens bem trajados em um típico pub blumenauense. Não reconheço a cidade de Blumenau por sua alma artística ou contestadora, reconheço Blumenau pelo prestígio dado à sua rica tradição e cultura regional. Um amigo de longa data rascunhou o pensamento de que os blumenauenses somente saíram da caixa quando elegeram um prefeito de esquerda em sua tradicional cidade. Por esses e por outros motivos que, naquele pequeno e bonito bar, um calafrio misturado com o fervor do sangue latino tomou conta de mim.

(…)♫ Viver é melhor que sonhar; Eu sei que o amor É uma coisa boa (…)♫

Muitos jovens redescobriram os karaokês e hoje eles fazem um enorme sucesso nos pubs de Blumenau. As músicas servem aos mais amadores e aos profissionais, palcos bonitos são montados para a nossa alegria. Dessa forma, foi em um dos karaokês que um grande amigo e sua namorada arriscaram-se a cantar Elis. Foi incrível. “Como nossos pais”, a Música composta por Belchior e interpretada por Elis, foi escrita para o enfrentamento ao regime militar da época.

♫ (…) Por isso cuidado meu bem, Há perigo na esquina, Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós Que somos jovens (…) ♫

E foi assim, de forma imprevisível que um casal de jovens amigos incendiaram o pub localizado de forma discreta na rua São Paulo. Tão antiga e tão necessária, a música ecoou aos corações dos sonhadores desalentados. Em certo momento, involuntariamente, todos estavam cantando juntos uma música da década de 70 interpretada em coro como um grande protesto em face ao conservadorismo recente

(…)♫ Minha dor é perceber Que apesar de termos feito Tudo, tudo, tudo, tudo que fizemos; Ainda somos os mesmos, E vivemos, Ainda somos os mesmos E vivemos Como os nossos pais (…)♫

Não foi uma simplória homenagem à Elis, ali estava o legado de Elis e toda a sua alma. Ali estava a sua história e a sua mensagem ao Brasil à beira do abismo. Ali estava o Brasil de ontem e o de hoje, confrontados diante da arte. Nunca imaginei que uma música dos anos 70 poderia servir como protesto ao Brasil de 2018, um país com um passado mal resolvido que insiste em cometer os mesmos erros, mas ali que Elis cantou aos blumenauenses.

(…)♫ Ainda somos os mesmos E vivemos Como os nossos pais (…)♫

Felipe Gabriel Schultze
Felipe Gabriel Schultze
Formado em Direito, escreveu os livros 'Federalismo Brasileiro' e 'Sede de Liberdade'. Escreve sobre reflexos do cotidiano.
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