quinta-feira, 28 de março de 2024
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Quando ele caiu na real

O cachecol comprado em uma loja de grife era mais usado para secar as lágrimas do que para aquecê-lo nos dias de inverno. Sempre anunciava que a saída de um relacionamento duradouro era complicado, mas na verdade, cada dor era única e particular. Ele foi deixado pela mulher de sua vida em uma noite gelada de outono enquanto os dois assistiam o programa de auditório preferido do Brasil, como faziam há mais de vinte anos. Era para ser uma noite tranquila, como todos os domingos, para ele estava tudo bem, sempre esteve. É verdade que as brigas existiam, mas todo relacionamento tinham suas fagulhas e o casamento deles não era diferente, certo? As brigas maiores consistiam nos verões cariocas, sua esposa, sempre esposa, gostava de roupas curtas, e ele não aprovava tal indecência, não sendo sua esposa usando. Ela gostava de usar biquínis em praias agitadas, ele gostava de maiôs em piscinas. Ela gostava de jantar em bons restaurantes, ele gostava de vê-la preparar a comida, afinal, a comida caseira sempre é mais saborosa. Ela deseja que contratassem uma faxineira, ele acreditava que ela limpava a casa perfeitamente. Pensando bem, os problemas dos dois não se limitavam aos verões cariocas.

Naquela noite de domingo, quando ela levantou-se do sofá e saiu do apartamento recém quitado, deixou as fotografias e as dívidas para trás. De inicio ele acreditava que era apenas birra, fruto da falta de educação que sua mãe dera. Passaram os dias e ele continuou lá, sentado vendo a novela das 21h esperando que em algum momento ela voltasse para os braços de seu príncipe. E de repente, sem aviso ele percebeu que aquele adeus era eterno. O príncipe, percebeu, era um sapo, um gordo e asqueroso sapo. Caindo em um buraco negro, ele procurou desesperadamente sua esposa, acreditou que sua mãe ou sua amiga Selma havia feito sua cabeça, demorou para observar que o amor havia acabado.

Ele quebrou um diamante.

Igual uma fênix que ressurge das cinzas ele viu que perdeu a mulher de sua vida. A mulher mais linda da cidade agora estava dançando com outro homem, e o pior, dançava igual uma adolescente, sem arrependimentos.

Felipe Gabriel Schultze
Felipe Gabriel Schultze
Formado em Direito, escreveu os livros 'Federalismo Brasileiro' e 'Sede de Liberdade'. Escreve sobre reflexos do cotidiano.
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