Reconheço os meus privilégios, porém não coloco um enorme pano sobre os olhos ao ponto de cegar-me socialmente e concluir que tudo está bem. Não acredito que coincidências ocorrem em um país onde o número de negros assassinados é 25 vezes maior se comprado com os de brancos.
Não acredito que a pouca representatividade de clientes negros em um restaurante de classe média seja coincidência. Também não acredito que seja um fato isolado a minoria de pessoas negras em cargos executivos. Quando a carne é negra, o mundo é um campo de batalha.
Escrevo o presente artigo porque a vida negra importa. Enquanto houver racismo ou preconceito nas entranhas do país desigual, é necessário escrever. Negro, favelado e usuário de drogas usando bermuda tactel é um ser pré julgado.
Pedro Henrique morreu sufocado por um segurança. Ele é segurado até a morte sem resistir. Parece-me que imobilizar não seria o suficiente, era necessário demonstrar mais força contra aquele jovem enquanto sua mãe berrava por socorro. O fato de Pedro ter agido de forma suspeita não retira a culpa pelo assassinato. Assassinato, é preciso frisar a palavra.
O racismo está no DNA deste país, está na fashionista que comporta-se como uma sinhá, ou naquele vídeo de Whatsapp com duplo sentido. O silêncio profundo e velado sobre a morte de Pedro é a cara de um país que retrocede. É preciso modificar a música de Elza Soares e cantar mais alto e cada vez mais: a carne negra não é a mais barata do mercado.