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Neonazismo: VÍTIMAS DO ÓDIO

Quando pensamos em tiroteios em escolas, pensamos em Columbine High School em abril de 1999 nos Estados Unidos. Na manhã de 13 de março de 2019 o Brasil despertou com um tiroteio na Escola Professor Raul Brasil, em Suzano-SP. Guilherme Taucci Monteiro, de 17 anos, e Luiz Henrique de Castro, de 25, que eram ex-alunos da escola, entraram no colégio armados e mataram sete pessoas. O ódio havia ultrapassado fronteiras.

Em 25 de novembro de 2022 o ódio mais uma vez ganhou as manchetes no Brasil. Um atirador de 16 anos atacou duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, assassinando 04 vítimas e deixando 10 feridos. O atirador ganhou o livro escrito por Adolf Hitler de presente do próprio pai, segundo a polícia. Ele é filho do tenente da PM Fabio Cunha Castiglioni, que chegou a compartilhar a imagem da capa da publicação em sua rede social.

O LATENTE NEONAZISMO

O resgate do nazismo, a negação do Holocausto, reformulado no movimento neonazista tem seu impulso no revisionismo histórico propagado pelo antissemita Siegfried Ellwanger Castan (1928-2010).

O ódio e a intolerância reafirmado nos textos revisionistas do antissemita Siegfried Ellwanger Castan encontra eco nos jovens de 16 a 25 anos. Os jovens procuram grupos neonazistas porque não encontram respostas para questões de ordem familiar, pessoal, social e até mesmo cívica. Militarmente o nazismo foi derrotado. No revisionismo histórico ele permanece promovendo a intolerância e o antissemitismo.

UM EMBUSTE

Lembremos: o nazismo suscitou um imenso ‘fervor’. Não só entre as massas, mas também dentre aqueles de quem se poderia esperar que a inteligência e a cultura fossem baluartes contra a abjeção. Advogados, economistas, historiadores e filósofos preferiram o engajamento nos órgãos de repressão de Hitler, em particular a SS. Nenhum deles rejeitou as ações propostas. Derrotados pelos aliados, posteriormente justificaram os crimes cometidos como cumprindo ordens superiores. Um embuste aceito a todo aquele que promove generalizações e omite os fatos históricos, fartamente documentados pelos próprios nazistas. Um nazista, é nazista, ontem, hoje e amanhã.

CRIME PREMEDITADO

Pai de atirador do Espírito Santo comprou livro de Hitler para o filho, diz polícia.

O atirador de 16 anos que atacou duas escolas em Aracruz (ES) ganhou o livro escrito por Adolf Hitler de presente do próprio pai, segundo a polícia. Ele é filho de um tenente da PM, que chegou a compartilhar a imagem da capa da publicação em sua rede social.

A obra “Minha Luta” foi escrita pelo ditador nazista em 1923 para disseminar ideias antissemitas. Nos ataques, ocorridos em 25 de novembro de 2022, o autor do crime matou quatro pessoas e feriu 12. Os pais do adolescente foram intimados para prestar depoimento pela Polícia Civil de Aracruz.

ATIRADOR DISSE TER LIDO TRECHOS DE LIVRO DE HITLER

O atirador, que apareceu nas imagens registradas da ação com uma suástica no braço direito de um uniforme camuflado, confirmou em depoimento ter lido trechos do livro de Hitler. A informação foi confirmada pelo delegado André Jaretta, após entrevista coletiva concedida em Vitória (ES). Ele disse inclusive que a obra foi apreendida pelos agentes. “Esse adolescente leu parte desse livro”, disse o delegado, responsável pela investigação do caso.

Fontes ligadas à PM de Aracruz informaram que o tenente admitiu ter adquirido a obra do ditador nazista a pedido do filho. Em conversa informal com colegas de farda, o pai do atirador teria dito que “era uma forma de se aproximar do filho, que não tinha amigos e falava pouco com os próprios pais dentro de casa”. O pai foi afastado das suas atividades operacionais na Polícia Militar enquanto o caso está sendo investigado.

PARTICIPAÇÃO DE TERCEIROS

Em uma análise preliminar do celular e do computador apreendidos para verificar se houve participação de terceiros, os investigadores não encontraram contatos entre o adolescente e outras pessoas. “Os únicos contatos salvos na agenda do celular eram ‘pai’ e ‘mãe'”, disse o delegado André Jaretta.

CRIME PLANEJADO

Em depoimento, o adolescente assassino disse que passou a arquitetar o ataque há dois anos após ser vítima de bullying na escola. Filho de uma ex-professora da escola Primo Bitti, primeiro alvo do ataque, ele também era ex-aluno da instituição de ensino, e estava afastado de sala de aula desde junho deste ano, informou a polícia.

Segundo o delegado André Jaretta, o jovem assassino escolheu as duas escolas como alvos porque elas eram mais próximas de sua casa.

“Na versão apresentada por ele, escolheu aleatoriamente. Como ele acessou a primeira escola pelos fundos, e a primeira sala era a dos professores, foi a sala que ele teve o acesso mais fácil. Todavia, vamos aprofundar ainda mais quanto a isso (…) Não tinha um alvo específico, simplesmente queria praticar o atentado. Atirou aleatoriamente nas pessoas que estavam ali naquele momento”, disse o policial.

O ATAQUE

João Francisco Filho, superintendente da Polícia Regional Norte e delegado, revelou os passos do adolescente após os atentados. Ao deixar o local, o atirador procurou uma região isolada, na qual pudesse remover as fitas que escondiam as placas do automóvel utilizado. Em seguida, ele se dirigiu até a casa da família em Mar Azul, Coqueiral de Aracruz, pegou os itens utilizados para cometer os assassinatos, e colocou tudo de volta no lugar original, uma tentativa de ‘despistar’ os seus familiares.

O atirador utilizou uma pistola .40 e um revólver para cometer os crimes. As armas são do pai, tenente da Polícia Militar, que também já se mostrou simpatizante ao nazismo. Em uma postagem de suas redes sociais há uma imagem do livro “Minha Luta”, de Adolf Hitler.⠀

A Corregedoria da Polícia Militar informou que instaurou um Inquérito Administrativo Disciplinar (PAD) para apurar a circunstância do acesso do jovem às armas. As duas armas utilizadas pelo adolescente foram apreendidas e entregues à Polícia Civil. “O militar foi transferido do serviço operacional para o administrativo”, informou a PM do Espírito Santo.

O secretário de Estado da Segurança Pública e Defesa Social, coronel Marcio Celante, afirmou que o jovem abandonou as atividades escolares há quatro meses com a permissão dos pais. Ele estudava na Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio (EEFM) Primo Bitti, a primeira atacada.

Além de ser filho de um policial militar da ativa, que dizia atuar também como psicanalista, o assassino é filho de uma professora aposentada – que trabalhou em uma das escolas atacadas por cerca de 17 anos. Os pais saíram do bairro, e retiraram seus pertences da casa um dia após o crime.

O assassino está apreendido e vai responder a ato infracional análogo a quatro homicídios e a 10 tentativas de homicídio qualificado.

VÍTIMAS DO ÓDIO

Quatro pessoas morreram em decorrência do ataque. A estudante Selena Zagrillo, 12 anos, e as professoras Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, 48 anos, e Cybelle Passos Bezerra, 45 anos, e Flávia Amoss Merçon Leonardo, 38 anos. Ainda há mais cinco vítimas internadas, incluindo duas crianças que já não correm mais risco de vida. Uma delas é um menino de 14 anos, que teve perfurações na barriga, e a outra é uma menina de 14, que levou um tiro na cabeça e ficou entubada por uns dias.

A Secretaria da Saúde do Espírito Santo (SESA) informou que uma mulher de 37 anos segue entubada em UTI do Hospital Estadual Dr. Jayme dos Santos Neves (HEJSN) em grave estado geral.

ÓDIO, O VENENO QUE MATA A ALMA

Não há lugar para ódio no bem-estar existencial. Ódio é veneno que mata a alma. Não se deve, nem se pode odiar. É inaceitável tal sentimento para com qualquer semelhante. Não há justificativa para o ódio. Ódio não é o mesmo que indignação. Podemos nos indignar, mas nunca odiar. Ódio é um sentimento vazio de qualquer razão.

O amor sempre vence porque o amor não cobra, mas doa. O “amor” que só cobra, mas não doa é falso e se esconde sob a “capa” o ódio. Quem ama não concordo com tudo e todos, mas ama a todos.

Não é isso que aprendemos ao olharmos para Deus? Deus ama todas as pessoas, mas, nem por isso, aprova tudo que as pessoas pensam, falam e fazem. O amor não é conivente. O amor é misericordioso.

A verdade é que quem ama não odeia e quem odeia não ama. Se alguém diz que tem uma relação de amor e ódio que se direciona para um mesmo “objeto” na verdade, vive numa guerra interior angustiante e que lhe tira a paz.

Sérgio Campregher
Sérgio Campregher
Sérgio Campregher é historiador pela Uniasselvi/Fameblu e fala sobre política nacional e internacional e curiosidades. Escreve de Blumenau.
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