quinta-feira, 28 de março de 2024
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Israel e Palestina – Outra história entre a cruz, a espada e o fuzil

Tanques israelenses avançam para a fronteira com Gaza. Assim continua outro capitulo de uma história de sangue, incertezas e esperanças perdidas

Aartilha de territórios, intolerâncias seculares, rivalidades, extremismo, terrorismo, morte. A história por trás das eternas desavenças entre árabes, sobretudo palestinos, e israelenses novamente vive um capitulo marcado por sangue e ignorância em mais uma ofensiva de Israel contra as ameaçadoras intentonas do grupo terrorista Hamas, uma de suas maiores ameaças.

O grupo, da qual é membro o presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, soma-se a outras facções como a Jihad Islâmica, o Fatah e o Hezbollah, como os motivos maiores da intranquilidade de uma nação que desde sua fundação, no longínquo 1948, ainda sofre com a falta de uma resolução final na questão que já vitimou milhares de civis e, entre eles, os que procuravam um fim a triste realidade do Oriente Médio.

Davi Ben Gurion, primeiro chefe de estado israelense, na cerimonia de independência de Israel, em 1948
Davi Ben Gurion, primeiro chefe de estado israelense, na cerimonia de independência de Israel, em 1948

A problemática, como dito, não é de hoje e é quase presença constante nos fatos do mundo há mais de 60 anos. Foi ainda no século XIX, quando um grupo de judeus britânicos procurou reunir seus semelhantes em torno de um antigo sonho que Israel se conhece por gente. O chamado “Movimento Sionista” procurou incentivar a imigração de judeus para um território na região da Palestina, na época controlada pelo Império Otomano (atual Turquia). Com a queda dos otomanos na Primeira Guerra, a região passou de mão em mão, e as intolerâncias árabes para com os israelitas começavam ali mesmo.

Dos árabes, o mandato na região passou a mão do Reino Unido, que impossibilitado de conter os crescentes conflitos na região, entregou o problema as mãos da recém-criada Organização das Nações Unidas (ONU). Em 1948, depois de uma sangrenta guerra de independência, é votada pela novata organização a tão sonhada resolução que partilharia a região, criando assim um estado judeu e outro árabe. Vale como destaque que a presidência desta sessão foi o diplomata brasileiro Osvaldo Aranha, chefe da delegação nacional e que até hoje é homenageado por judeus e sionitas israelenses, por sua postura firme ante a oposição árabe a criação do país.

O que parecia uma solução final ao problema se mostrou o início de um período de altos, baixos e de confrontos bem e mal resolvidos entre Israel e os que ao seu entorno habitavam. Ampliações de território, insatisfações, inúmeras tentativas de estabelecimento da paz e a volta violenta dos grupos terroristas ao ataque são uma constante até os dias de hoje. Por muitas vezes, Israel e Palestina estiveram próximas de finalmente silenciar os conflitos e, enfim, estabelecerem seus territórios e acordarem suas divergências, o que seria a porta definitiva para a solução das indiferenças árabes aos judeus.

A evolução da ocupação de Israel, de 1946 até hoje (Noticia Hoje)

Oportunidades não faltaram, uma das mais claras sem dúvidas foi entre 1993 e 2004, quando sob o intermédio dos Estados Unidos, Israel e Palestina chegaram a uma série de entendimentos que culminariam com o Acordo de Oslo, assinados avidamente pelos pivôs da situação: O então líder da Autoridade Palestina, Yasser Arafat, o então primeiro-ministro israelense, Yitzhak Rabin e o diplomata também de Israel, Shimon Peres. Apesar da grande expectativa de um fim próximo da questão, um tiro de um radical extremista israelense mataria Rabin, Arafat passaria a discordar das posições do governo israelense e dos Estados Unidos, e as hostilidades levariam a uma segunda Intifada (a primeira, em 1987), que voltaria a fazer mais vitimas.

Acordo de Oslo, em 1993. Rabin e Arafat, ao olhar de Bill Clinton, se cumprimentam, num dos momentos de lucidez do conflito

A morte de Arafat em 2004 e a volta dos conflitos violentos de Israel contra redes terroristas na Palestina se intensificaram violentamente nos últimos anos de uma maneira praticamente irremediável. Abaixo de decretos de cessar-fogo, em troca de acusações e com mortes atrás de mortes de civis, israelenses e palestinos culminaram em 2014 com a violenta repreenda ao Hamas na Faixa de Gaza. Civis, terroristas, nada escapa das bombas israelitas, assim como civis e militares não escapam da intolerância declarada do grupo terrorista que segue em suas cartas os mesmos princípios radicais de anos atrás. Entre eles, a destruição do Estado de Israel.

Apontar culpados e o “fora” brasileiro

O que foi trazido na primeira parte desta crônica foi uma forma simplificada de como se construiu um quadro como este. É evidente que a morte de civis de ambos os lados choca pela falta de sensibilidade que todo um conflito armado traz. No entanto, numa espécie de procura por culpados e numa tentativa de “esquerdizar” as coisas, tudo o que pode ser afirmado contra e a favor dos dois lados tem pipocado freneticamente nas redes sociais e na imprensa. De um lado, a dita “insanidade” israelense contra civis palestinos, do outro, um território onde os mesmos civis são o escudo de mentes radicais subversivas e extremistas, que não medem vidas e esforços para consolidar seus objetivos nefastos.

No meio do fogo cruzado, eis que o Brasil aparece para simplesmente colocar a mão diante dos judeus, impedindo-os no direito pleno de defesa diante da ameaça constante vinda do Hamas. A condenação dos ataques foi sem dúvida um dos maiores “tiros n’agua” de nossa diplomacia nos últimos anos, onde não se nota que o verdadeiro eixo motriz da guerra está no Hamas, e não na Palestina em si, que, embora controlada por Abbas, tenta seguir a vida e buscar uma saída para o estado de beligerância. Nesta hora, Israel acerta os dedos brasileiros, provando a eficácia do ditado famoso que dizia que “em boca fechada não entra mosca”.

E lembram-se de Osvaldo Aranha? Pois é, nesta hora não vale a história, mas sim uma espécie de “status de defesa da paz”, através de uma declaração mal analisada e infeliz. Percalços a parte de um país que ainda tenta driblar as suas próprias convulsões sociais sem sucesso.

A intolerância, comprovadamente, é passada adiante pelo radicalismo e extremismo dos terroristas. Seria a paz possível a Israel e Palestina?

Pois bem, voltando ao conflito Israel X Hamas, a problemática atual não permite conclusões precipitadas de formulação de culpados. Israel não é totalmente inocente dos ataques, até pela contrastante força militar comparada ao que a Palestina hoje dispõe. Mas, ao analisar o extremismo enraizado do Hamas em suas ações pode-se notar claramente que um dos propulsores maiores da combustão da guerra é o próprio Hamas, que já provou não respeitar cessar-fogo nem buscar uma saída pacífica para uma situação quase secular, e que erroneamente é visto como “salvador da pátria”.

É outro capitulo lamentável onde o radicalismo de um lado coloca Israel contra a parede e a opinião pública geral. Onde se poderia buscar a solução pacífica e diplomática para o fim das tensões e o estabelecimento de fronteiras, novamente se vê a presença das armas e das torpes ideias radicais de aniquilação e destruição de um povo massacrado e humilhado pelos anos a fio, o que não pode também deixar de ser aplicado aos palestinos, que ainda atualmente, vivem refugiados e a espera de uma solução final vinda da ONU para a criação de seu tão sonhado estado independente.

O que resta aos que observam aflitos e atentos os lances dramáticos e tensos de uma guerra longe do fim é acompanhar os acontecimentos dos próximos dias, na expectativa do fim de mais um capitulo do infindável livro da intolerância quase eterna entre árabes e israelenses. Se em algum dia Israel e Palestina conseguirem o tão sonhado acordo de partilha de território, ninguém ao certo sabe dizer. No entanto, a intolerância, ao que se vê, não vem da jovem geração, mas de quem empunha canetas e armas em nome da ignorância extremista declarada.

E aos que pretendem comentar e apontar culpados, sugiro conhecer a história e entender seus porquês. Pois defender um lado apenas pode significar muito mais do que uma aparente “defesa da paz”, mas a morte para o povo vizinho. Opiniões erradas podem matar, tal como o rajar dos fuzis em mais uma noite tensa do livro israelo-palestino.

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