Sete voltas que valeram a corrida inteira, e o suficiente para fazer o campeonato dar uma (leve) sacudidela. O GP de Mônaco, sonolento e chato, pode ser resumido apenas aos giros finais, quando um acidente e um erro de box da Mercedes colocaram a certa vitória de Lewis Hamilton por terra. Resultado: Nico Rosberg sai do principado mais perto do inglês na briga pelo título e, de quebra, entra numa galeria seleta de vitoriosos consecutivos em Mônaco, como Alain Prost, Graham Hill e Ayrton Senna.
Desde os treinos, era visível que Hamilton levaria a corrida no papo, andando com força e precisão por entre as curvas apertadas de Monte Carlo. A Ferrari andou perto, colocando Vettel e Raikkonen como perseguidores das flechas prateadas. Durante a prova, um sono geral com o domínio do inglês e uma velada briga de alemães no segundo e terceiro postos.
No entanto, perto do fim da prova, o acidente entre o garoto da Toro Rosso, Max Verstappen, e a Lotus de Romain Grosjean colocou o safety-car na pista, na mesma volta que Hamilton, confiando na vantagem que tinha, seguiu a estratégia da Mercedes e foi ao box para colocar um novo jogo de pneus. No entanto, ainda rápidos, os lideres passaram, e o atual campeão se viu atrás de Rosberg, o novo líder, e Vettel, que pulou para a segunda posição nos milésimos da faixa branca do pit-lane.
Toda esta agitação em apenas sete voltas para o fim, que prometiam muito com um Hamilton enraivecido em busca de um milagre. Foi o que foi. Rosberg voou a frente e deixou o companheiro se virando na briga contra Vettel. Ao mesmo tempo, Hamilton sentia chegar na caixa de cambio do Mercedes 44 um empolgado Daniel Riccardo, que fazia a melhor atuação da Red Bull na temporada, virando a volta mais rápida da prova e colando em Hamilton, após deixar o companheiro Daniil Kvyat e Kimi Raikkonen para trás.
Mas não deu para o inglês, Rosberg venceu e conquistou, com isto, o terceiro GP de Mônaco seguido da carreira, se colocando numa galeria de lendas do principado e orgulhando o velho Keke. Vettel conquistou um fabuloso segundo lugar e Hamilton, mesmo com as desculpas mandrakes da equipe, que reconheceu o erro, foi ao pódio em terceiro, com uma expressão de muito poucos amigos.
Nasr pontua e salva fim de semana brasileiro no principado
Para o Brasil, terra do “Rei de Mônaco” Ayrton Senna, o fim de semana foi terrível mais uma vez. Nos lados de Groove, Felipe Massa sentiu novamente a dificuldade de se andar com um carro estacionado no desenvolvimento. A Williams teve o pior grid e a pior corrida da temporada. Para completar, Massa ainda foi vitima do impeto de Pastor Maldonado, sofreu um toque, voltou em último e terminou numa distante 15ª posição. Se serve de consolo, Valtteri Bottas também teve problemas e terminou imediatamente a frente, no 14º lugar.
No entanto, Felipe Nasr conseguiu se reaver de um complicado treino. Largando no 15º lugar, posição nada agradável para se largar em Mônaco, o brasileiro da Sauber contou com a estratégia da equipe e com a sorte para completar a prova em nono e somar bons pontos para o campeonato. A conquista do brasileiro também é surpreendente pelo fato do time suíço não ter atualizado o carro com nenhum pacote aerodinâmico desde o início da temporada.
Os 10 mais: Corrida
1 – Nico Rosberg (Mercedes)
2 – Sebastian Vettel (Ferrari)
3 – Lewis Hamilton (Mercedes)
4 – Daniil Kvyat (Red Bull-Renault)
5 – Daniel Riccardo (Red Bull-Renault)
6 – Kimi Raikkonen (Ferrari)
7 – Sergio Perez (Force India-Mercedes)
8 – Jenson Button (McLaren-Honda)
9 – Felipe Nasr (Sauber-Ferrari)
10 – Carlos Sainz Jr. (Toro Rosso-Renault)
15 – Felipe Massa (Williams-Mercedes)
Os 6 mais: Campeonato
1 – Lewis Hamilton (126)
2 – Nico Rosberg (116)
3 – Sebastian Vettel (98)
4 – Kimi Raikkonen (60)
5 – Valtteri Bottas (42)
6 – Felipe Massa (39)
9 – Felipe Nasr (16)
Rapidinhas:
– O quarto e quinto lugar da Red Bull foi, sem dúvida, o melhor desempenho da equipe na temporada. As voltas com o péssimo Renault V6, Riccardo mostrou força e diplomacia nas voltas finais, tirando o quinto lugar de Kimi Raikkonen numa manobra arrojada na curva Mirabeau, tomando na ordem da equipe a posição do companheiro, Daniil Kvyat, e cravando a melhor volta na briga com Hamilton. No fim, fracassando na briga pelo pódio, ainda deu um exemplo de desportividade, ao receber e cumprir a ordem da equipe para que devolvesse a posição ao companheiro (ou “camarada”) russo.
– A McLaren prometeu demais quando falou em estar “competitiva” em Mônaco. No entanto, saiu do principado com os primeiros pontos da temporada, o que é um feito com um motor ainda tão deficitário como o Honda. Coube a Jenson Button a honra de levar o carro ao oitavo lugar, em uma atuação conservadora mas forte. Fernando Alonso parece ainda usufruir da paciência oriental e engolir as deficiências do carro,já que acabou terminando a prova mais cedo.
– Paciência, afinal, é virtude dos japoneses da Honda. Coisa que já a tiveram no passado, quando em 1983 começaram os trabalhos na F1 na modestíssima equipe Spirit. Não era um engenho confiável e sofria com o peso dos carros. Em 1984, já estava na Williams de Keke Rosberg e Jacques Laffite, e venceria em Dallas a primeira prova da nova fase da Honda na categoria (a primeira, nos anos 60). Dois anos depois, já estava disputando título e, em 1987, o alcançaria com Nelson Piquet. Se tempo é a confiança para os japoneses, a McLaren está no rumo certo.
– A jovialidade de Max Verstappen foi, novamente, colocada no julgamento dos críticos da F1. Culpado no acidente com Grosjean no fim da prova, o holandês aprendeu da forma mais dolorida o que é andar além do limite e sem controle. Escapou bem, pelo menos, mas não escapou da língua ferina de Galvão Bueno, que o espancou e afirmou em alto e bom som que “um acidente não deveria ser lição para um piloto”. Talvez, o veterano narrador esqueceu-se que foi também em um acidente no mesmo Mônaco, que Ayrton Senna tirou lições valiosas e reposicionou os pensamentos na briga pelo primeiro título da carreira, em 1988.
– Alias, as transmissões, tanto da Globo quanto da geradora oficial do GP, a Tele Monte Carlo, foram novamente a crítica do GP. Da parte brasileira, a forçação de barra na busca da “emoção” e assuntos inconvenientes novamente mancharam o trabalho da emissora dos Marinho, cada vez menos empolgada em transmitir a categoria. Já nos lados monegascos, poucos replays e a perda de lances importantes, como o toque de Maldonado em Massa, foram a gota d’água.
O próximo compromisso da F1, agora, é apenas no primeiro domingo de junho, quando o circo pousa na Ilha de Notre-Dame, em Montreal, para a disputa do GP do Canadá. Aos de sono pesado, um alívio, a largada da prova é as 15h. Até la!