Depois do que se viu em Cingapura, teve quem acreditou que a Mercedes, enfim, tinha encontrado um par a altura para desafiar a supremacia construída nesta temporada da F1 em 2015. No entanto, quem teve paciência para acordar as 2h desde domingo (27/09) assistiu um GP do Japão monótono, sem emoções e dominado de braçada por Lewis Hamilton, que além de se aproximar ainda mais do tricampeonato, conquistou a sonhada 41ª vitória, igualando o numero de conquistas do ídolo de infância, o brasileiro Ayrton Senna. Justo em Suzuka, onde o brasileiro decidiu os três títulos da carreira.
Hamilton não era o pole, mas usou da persistência logo na primeira curva para alcançar a ponta da corrida e defini-la na largada categoricamente, ultrapassando o companheiro Nico Rosberg sem titubear. Ainda na largada, um toque entre Felipe Massa (Williams) e Daniel Riccardo (Red Bull) minou a corrida de ambos, que passaram desapercebidos durante literalmente todas as 53 voltas. O brasileiro da Williams ainda foi muito pior. Com o bico danificado e o pneu furado, Massa foi para os boxes logo na primeira volta, voltando em último com uma volta atrás de todos. Terminou a prova apenas a frente das fraquíssimas Manor.
Entre os cinco primeiros, a maior alteração foi a recuperação de Rosberg, que além de perder a ponta na largada, caiu para o quinto lugar, atrás de Kimi Raikkonen (Ferrari) e Valtteri Bottas (Williams). Na estratégia de pits, o alemão voltou ao segundo lugar, mas participou da corrida burocrática que se formou depois de algum tempo, sem ameaçar em nenhum momento o líder Hamilton, que nadava de braçada rumo a vitória. O que provou que a noite de pesadelo em Marina Bay foi, simplesmente, um ponto fora da curva.
Os 10 mais – Corrida
1 – Lewis Hamilton (Mercedes)
2 – Nico Rosberg (Mercedes)
3 – Sebastian Vettel (Ferrari)
4 – Kimi Raikkonen (Ferrari)
5 – Valtteri Bottas (Williams-Mercedes)
6 – Nico Hulkenberg (Force India-Mercedes)
7 – Romain Grosjean (Lotus-Mercedes)
8 – Pastor Maldonado (Lotus-Mercedes)
9 – Max Verstappen (Toro Rosso-Renault)
10 – Carlos Sainz Jr. (Toro Rosso-Renault)
17 – Felipe Massa (Williams-Mercedes)
ABN – Felipe Nasr (Sauber-Ferrari)
Os 6 Mais – Campeonato
1 – Lewis Hamilton (277)
2 – Nico Rosberg (229)
3 – Sebastian Vettel (218)
4 – Kimi Raikkonen (119)
5 – Valtteri Bottas (111)
6 – Felipe Massa (97)
13 – Felipe Nasr (17)
Pau comendo solto no pelotão intermediário
Se la na frente a corrida andava bem definida e monótona, o que salvou em partes a prova da melancolia foram as pequenas brigas nas posições intermediárias. Destaque apenas para o pequeno trenzinho formado por Marcus Ericsson (Sauber), Sergio Perez (Force India), Danill Kvyat e Daniel Riccardo (Red Bull). O sueco da Sauber bem que tentou segurar na raça a 12ª posição, mas a pressão de Perez era constante e, numa espalhada de Ericsson na complicada curva spoon, o mexicano aproveitou para roubar a posição depois de tantas tentativas.
Kvyat também o fez uma volta mais tarde, aproveitando a brecha de Ericsson para a passagem de Kimi Raikkonen, que colocava uma volta em cima do Sauber. Maroto, o russo pegou carona e levou a melhor, numa manobra malandra e inteligente. Ao contrario de Ericsson, o companheiro de equipe, o brasileiro Felipe Nasr, não pode fazer muito em Suzuka. Sofreu com um problema de aderência durante a prova toda e abandonou a corrida perto do fim.
Insatisfação “ao vivo” na McLaren, dificuldades na Lotus
A corrida também foi calamitosa para a McLaren, que pela primeira vez corria na casa da fornecedora de motor, a Honda (literalmente, pois Suzuka pertence a montadora japonesa). Fora da zona de pontuação, a equipe de Working sofreu outra vez com o motor, mesmo diante das promessas e atualizações dos japoneses. Em dado momento, ao ser ultrapassado pelo abusado e veloz Max Verstappen (Toro Rosso), Fernando Alonso esbravejou no rádio criticando a própria Honda, “motor de GP2“. Já Jenson Button, na corrida onde esperava o anuncio da aposentadoria, fez uma prova apagada e nada de nada disse sobre parar.
Outra que teve dificuldades, mas extra-pista, foi a Lotus. Imersa numa crise financeira sem precedentes e esperando apenas o selar das negociações com a Renault, o time preto-e-dourado viu os equipamentos chegarem atrasados em Suzuka e a equipe, sem nem mesmo a cozinha disponível, teve de contar com a gentileza de Bernie Ecclestone para pode almoçar na quinta-feira. No final, o sétimo e oitavo lugar de Romain Grosjean e Pastor Maldonado, respectivamente, podem ser comemorados como vitória.
Verstappen, o mais ousado do grid / A encrenca da Red Bull
Se alguns sofrem com a dificuldade, outros sabem como mostrar trabalho mesmo com uma maquina inferior. Depois do sonoro “não” no radio em Cingapura, Max Verstappen comprovou hoje porque merece respeito dentro da Toro Rosso e na F1, que ainda teimam em chama-lo de “inexperiente”. Em uma manobra abusada e categórica, ultrapassou o companheiro, o fraco espanhol Carlos Sainz Jr., na famosa chincane antes da reta de Suzuka. Uma das manobras mais belas da prova, talvez a única.
Apesar do talento de Verstappen, assim como o talento do jovem Kvyat no time principal, a Red Bull e o time satélite (Toro Rosso) vivem dias de especulação e temores. A marca austríaca cortou o contrato que tinha com a Renault e busca agora um novo e mais competitivo motor para 2016. Tinha-se esperança com Mercedes, mas esta virou fumaça. Partiu-se para uma parceria com a Volkswagen, por meio da Audi, mas os escândalos da marca alemã na última semana também minaram o negócio.
Espera-se uma definição junto da Ferrari para fornecimento de motores, o que também parece pouco provável, já que a equipe exige um motor igual aos usados pelos bólidos de Maranello, e não o clássico “de concepção de um ano atrás“, como é o usado pela Sauber. A ameaça solta pelo dono do team, Dietrich Mateschitz, é de abandonar a F1, o que seria uma grande perda depois dos anos de domínio da equipe na categoria e as histórias que já escreveu. O futuro pode ser escrito nas próximas semanas.
Globo: Chateações e erro sem correção
Agora, quem teve paciência para acompanhar a prova na TV aberta teve, outra vez, de engolir a narração excessivamente emotiva e chata de Luis Roberto. O locutor, há algum tempo, anda querendo colocar emoção em todo e qualquer momento, e na F1 isto tem se tornado uma constante. O que, obviamente, tem tornado as narrativas chatas e insuportáveis. Mas, longe de Luis Roberto, a gafe imperdoável da semana foi do colega de profissão e de casa (no caso, a Sportv), Sérgio Maurício.
Dando uma de “sabe-tudo“, Maurício afirmou durante os treinos que o austríaco Gerhard Berger “conseguiu em Suzuka a única vitória na passagem de três anos que teve pela McLaren (1990-1992)“. Um erro grotesco, ignorando solenemente e sem correção as vitórias de Berger no Canadá e na Austrália, em 1992.
Somados aos ridículos “flashes” do Q3 no sábado, seriam provas do constante desinteresse da Globo em continuar transmitindo a categoria? Não duvido, e não sei ainda como a FOM (Fórmula One Management) não deu nenhuma advertência a emissora. E é bem sabido que, na hora que a F1 sumir das TVs brasileiras, o automobilismo tupiniquim jamais voltará a ver um campeão na categoria máxima. O que, com a chateação que anda, nem precisa mais.
Esperando apenas Lewis Hamilton sacramentar o tri, a F1 voltará a se encontrar apenas no dia 11 de outubro, no Parque Olímpico de Sochi, para o GP da Rússia. E deseja-se que não seja a prova monótona que fora em 2014, o que, pelo jeito, é impossível de não ser.