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EUA deportam ex-guarda nazista de campo de concentração aos 95 anos

Dusseldorf – O nazista Jakiw Palij, ex-guarda de campo de concentração de 95 anos, foi deportado do bairro do Queens em Nova York onde vivia, para a Alemanha. A aeronave (Gulfstream III) decolou na noite de segunda-feira às 22:13 (horário local) no aeroporto de Teterboro (Nova Jersey) e aterrissou na manhã de terça-feira (21/08/2018) no aeroporto de Düsseldorf – Alemanha.

O nazista Jakiw Palij, trabalhou como guarda no campo de concentração de Trawniki, na Polônia ocupada pelos alemães durante a Segunda Guerra Mundial, onde milhares de judeus foram assassinados.

DEPORTADO - O nazista Palij saiu do avião em Düsseldorf nesta terça-feira 21/08/2018, depois de ser deportado dos EUA. (BILD / Sebastian Karadshow / Josef Frank Weiser)
DEPORTADO – O nazista Palij saiu do avião em Düsseldorf nesta terça-feira 21/08/2018, depois de ser deportado dos EUA. (BILD / Sebastian Karadshow / Josef Frank Weiser)

Em 1949, Jakiv Palij emigrou para os Estados Unidos e em 1957 foi-lhe concedida a cidadania, depois de mentir, dando declarações falsas e escondendo seu passado nazista aos oficiais de imigração. Um juiz dos EUA ordenou sua deportação em 2004, mas a ordem foi aplicada apenas na semana passada.

“O caso Palij foi da mais alta prioridade para o presidente Trump e para mim”, disse o embaixador norte-americano Richard Grenell à Bild. “Eu falei com ele desde o meu primeiro dia na Alemanha e outra vez, até mesmo na primeira reunião com o chanceler alemão Heiko Maas.” Em conversas com representantes do governo alemão Grenell salientou a obrigação moral do governo federal “, porque, mesmo se Palij não era um cidadão alemão, ele agiu em nome do então governo alemão.”

DISSIMULADO - Palij entrou nos EUA em 1949 sob a Lei de Pessoas Deslocadas, uma lei destinada a ajudar os refugiados da Europa do pós-guerra. Na imagem, sua foto de visto de 1949.
DISSIMULADO – Palij entrou nos EUA em 1949 sob a Lei de Pessoas Deslocadas, uma lei destinada a ajudar os refugiados da Europa do pós-guerra. Na imagem, sua foto de visto de 1949.

Desde 2004, as autoridades americanas tentaram deportá-lo. Mas Berlim rejeitou todos os pedidos de Washington por 14 anos. O chanceler Maas sinalizou imediatamente interesse em se tornar ativo no caso. “Qualquer pessoa que leia detalhes sobre as ações dos homens de Trawniki entenderá como é monstruoso que esse homem possa viver confortavelmente nos EUA e passar sua aposentadoria lá”, continuou Grenell. “O que acontece agora criminalmente é uma questão para o judiciário alemão”.

QUE PAPEL O GUARDA DO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO DESEMPENHOU?

Como guarda armado no Campo de Concentração de Trawniki, Palij era chamado de “Hilfswilliger” da SS (Schutzstaffel) e lá, de acordo com os investigadores dos EUA, foi responsável pelo assassinato em massa de 6.000 homens, mulheres e crianças judias. Sua tarefa era impedir que os prisioneiros escapassem e impusesse as condições desumanas de confinamento – o que Palij nega.

O nazista Jakiw Palij pertencia, com mais 5.000 homens, nos chamados “auxiliares estrangeiros dispostos para a SS” – jovens voluntários pró-eixo, provenientes dos territórios ocupados pela Alemanha, que auxiliaram os nazistas no Holocausto.

FRAUDE - Este documento, fotografado em 16 de julho de 2018 no National Archives em Nova York, mostra a petição de naturalização de Jakiw Palij.
FRAUDE – Este documento, fotografado em 16 de julho de 2018 no National Archives em Nova York, mostra a petição de naturalização de Jakiw Palij.

No Campo de Concentração de Trawniki (perto de Lublin), principalmente ucranianos, letões, estonianos, lituanos e poloneses foram treinados pelos capangas da SS (Schutzstaffel) para depois atuaram nas fábricas de assassinatos em massa nos campos de concentração em Treblinka, Belzec e Sobibor, para tarefas de guarda, fuzilamentos em massa e evacuação dos guetos.

Na Polônia ocupada, os nazistas estabeleceram o Campo de Trabalhos Forçados, também intitulado de Trawniki.

A partir de 1942, os soldados treinados em Trawniki participaram da “Aktion Reinhard”, a maior campanha de extermínio dentro do Holocausto. Historiadores os chamam de “infantaria do genocídio”.

De julho de 1942 a outubro de 1943, membros da SS e seus capangas assassinaram mais de dois milhões de judeus e 50.000 ciganos.

Durante o “Aktion Reinhardt” não foi realizada nenhuma seleção ou “extermínio por trabalho”, em vez disso, o assassinato mais rápido possível, do maior número possível de pessoas assumiu a máxima prioridade.

AKTION REINHARDT - Palij serviu como guarda armado no campo de concentração de Trawniki na Polônia ocupada pelos alemães. Na foto, Heinrich Himmler cumprimenta os novos recrutas do guarda no campo de Trawniki em 1942.
AKTION REINHARDT – Palij serviu como guarda armado no campo de concentração de Trawniki na Polônia ocupada pelos alemães. Na foto, Heinrich Himmler cumprimenta os novos recrutas do guarda no campo de Trawniki em 1942.

Em 2001, Palij confessou aos funcionários do Departamento de Justiça dos EUA que foi enviado em 1943 ao Campo de treinamento de Trawniki, sudeste de Lublin. Documentos judiciais mostram que os homens treinados em Trawniki estavam envolvidos no “Aktion Reinhardt” – este era o codinome do assassinato sistemático de todos os judeus na Polônia ocupada pelos alemães e que também ocupavam a Ucrânia. Na operação, cinicamente chamada de “Harvest Festival”, executado pela SS e seus capangas, em um único dia – 3 de novembro de 1943, 43.000 judeus foram assassinados. Cerca de 6.000 crianças, mulheres e homens judeus foram mortos a tiros pelo nazista Jakiv Palij.

SEU PAPEL NA MÁQUINA ASSASSINA NAZISTA

Não está claro se o nazista Palij vai enfrentar acusações, mas o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha disse que a deportação mostra que aqueles que serviram o regime nazista não encontrarão refúgio nos EUA.

O ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Heiko Maas, acrescentou: “Conhecer os horrores da era nazista hoje significa lutar contra o antissemitismo, a discriminação e o racismo. E isso significa estar de acordo com nossa obrigação moral para com as vítimas e as gerações futuras. A culpa daqueles que cometeram os piores crimes em nome da Alemanha não passa. Ela ainda está doendo profundamente”.

A deportação ocorreu após semanas de negociações diplomáticas, com apoio do presidente Donald Trump.

“Através de negociações extensas, o presidente Trump e sua equipe garantiram a deportação de Palij para a Alemanha e avançaram nos esforços de colaboração dos Estados Unidos com um importante aliado europeu”, disse em comunicado a Casa Branca.

O Ministério do Interior e Ministério da Justiça da Alemanha e o gabinete da chanceler Angela Merkel não comentaram imediatamente onde Palij seria levado na Alemanha e o que exatamente aconteceria com ele. (posteriormente o governo alemão anunciou que o nazista foi alojado num lar de idosos).

De acordo com o Departamento de Justiça Americano, Palij serviu no campo de treinamento nazista da SS em Trawniki, na Polônia ocupada pela Alemanha, em 1943.
O nazista foi deportado pela Immigration and Customs Enforcement. Palij vivia com a renda do serviço social americano no Queens, Nova York, até sua deportação, informou o jornal alemão Bild .

NAZISTA DEPORTADO - Jakiw Palij (foto em 2003), 95 anos, que morava em Nova York, foi preso e deportado pelas autoridades de imigração dos EUA, informou a Casa Branca na terça-feira, (21/08/2018).
NAZISTA DEPORTADO – Jakiw Palij (foto em 2003), 95 anos, que morava em Nova York, foi preso e deportado pelas autoridades de imigração dos EUA, informou a Casa Branca na terça-feira, (21/08/2018).

O embaixador dos Estados Unidos em Berlim, Richard Grenell, afirmou que a deportação foi possível devido à “vontade política e forte comprometimento” de vários membros do gabinete alemão. Grennel nomeou o Ministro dos Negócios Estrangeiros Heiko Maas (SPD) e o Ministro do Interior Horst Seehofer (CSU) como responsáveis pelo êxito na deportação.

“Enfrentamos a obrigação moral da Alemanha, em cujo nome os piores crimes foram cometidos sob os nazistas”, disse Heiko Maas ao Frankfurter Allgemeine Zeitung, principal jornal alemão. “A missão que vem da nossa história inclui trabalhar e lidar honestamente com os crimes do reinado de terror nazista”.

O QUE FAZER COM PALIJ?

Prof. Michael Wolffsohn – historiador e jornalista, é professor universitário na The Bundeswehr University em Munique.

Piedade por esse assassino? Nunca, jamais! Desde 2005 a atitude alemã no caso da deportação do superintendente do campo de concentração Jakiv Palij (95) era inaceitável e cínica. O atual ministro do Interior, Horst Seehofer, portanto, merece reconhecimento e respeito, pois sua ação realmente é contra o esquecimento do Holocausto e não apenas um debatedor de frases de efeito. Sem Horst Seehofer, ocriminoso Palij teria permanecido nos EUA.

Não esqueceremos a ação incisiva do ministro do interior Heiko Maas, que, em sua nova posição, constantemente desenvolveu qualidades notáveis e louváveis para o desfecho do impasse diplomático, beneficiando a Alemanha. E, não deixaremos de mencionar o presidente dos EUA Donald Trump, que ao contrário de Bush Jr. e de Obama não estava mais disposto a pagar com o dinheiro do contribuinte americano um assassino contratado dos nazistas alemães.

HILFSWILLIGER - Como guarda armado no Campo de Concentração de Trawniki, Palij era chamado de "Hilfswilliger" da SS (Schutzstaffel).
HILFSWILLIGER – Como guarda armado no Campo de Concentração de Trawniki, Palij era chamado de “Hilfswilliger” da SS (Schutzstaffel).

O que fazer com Palij? Velhos no tribunal trazem pena. Piedade deste assassino? Nunca, jamais!

Especificamente o governo federal alemão deverá levá-lo para um lar de idosos. Ali em público, ele deveria apenas usar uma braçadeira com os dizeres: “eu era um assassino de campo de concentração”. (Ao mesmo tempo, será preciso protegê-lo da violência vingativa).

Isso será mais eficaz do que qualquer sentença de prisão.

Na prisão, Palij ficaria fora de si. Ele deve sentir diariamente o nosso desprezo sem ser submetido à violência.

Sérgio Campregher
Sérgio Campregher
Sérgio Campregher é historiador pela Uniasselvi/Fameblu e fala sobre política nacional e internacional e curiosidades. Escreve de Blumenau.
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