A promessa de três trilhões de reais a serem recuperados, equivalente a toda riqueza gerada no Brasil em um ano, motiva muitas pessoas a investirem na chamada “Operação Au Metal” e “Operação SAP“. As primeiras vítimas do suposto estelionato no Vale do Itajaí procuraram o Farol para alertar a população.
As vítimas adquirem títulos que valeriam milhões quando finalizada uma suposta repatriação de dinheiro oriundo ao comércio de ouro. A alegação é que uma família do Brasil vendia ouro para os Estados Unidos no passado e agora foram descobertos títulos de ouro no Federal Reserve System (FED). Após uma suposta disputa judicial, uma imensa quantidade de dinheiro estaria disponível para repatriação.
Os estelionatários afirmam parte do valor deveria ser obrigatoriamente dividido com a população por exigência do negócio. Ao obter contrato de participação, a vítima entrega um valor para cobrir os custos do “processo”. Porém, a história já dura meses com sucessivos adiamentos do pagamento e com mais vítimas.
O esquema deixa um rastro de denúncias pelo Brasil. Em fevereiro de 2016, o juiz federal Odilon de Oliveira, do estado do Mato Grosso do Sul, denunciou que seu nome era usado para vender os títulos. Já em abril, a Polícia Civil de Primavera do Leste, estado do Matro Grosso, investigava uma ramificação. São inúmeras as reportagens e denúncias.
Os contratos dão a entender que a operação estaria protocolada no Banco Central. Porém, a instituição manifestou em uma solicitação informações sobre o “contrato Nº 27058 da Au Metal” que “não realiza este tipo de operação” e cita “clara hipótese da prática do crime de estelionato”. Confira o documento obtido pelo Farol no portal do Ministério da Transparência e Controladoria-Geral da União (CGU):
O Banco Central do Brasil não realiza esse tipo de operação, sendo totalmente falso qualquer documento da espécie que contenha o nome desta Autarquia, devendo o caso ser levado ao conhecimento da autoridade policial, a quem compete investigar fatos criminosos. Deve-se registrar, ainda, que, nos termos do art. 12 da Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1965, ‘o Banco Central do Brasil operará exclusivamente com instituições financeiras públicas e privadas, vedadas operações bancárias de qualquer natureza com outras pessoas de direito público ou privado, salvo as expressamente autorizadas por lei’. Por último, informo que há notícias de que no Estado do Mato Grosso do Sul tem havido negociações de supostos direitos decorrentes da chamada ‘operação AU-METAL 27058’ que, por suas características, revela clara hipótese da prática do crime de estelionato na modalidade de antecipação de pagamento, em que o estelionatário promete ceder um determinado bem (obviamente inexistente) a troco da antecipação do pagamento, pela vítima, de parte do valor desse mesmo bem.
Segredo e fé
Em áudios obtidos pela reportagem, a ordem dos líderes é de sigilo. Apesar de utilizar essencialmente aplicativos de mensagens instantâneas, a orientação é para manter as “operações” em segredo das famílias e pessoas que duvidam.
Os líderes pedem também o apoio espiritual para as supostas negociações que acontecem em Brasília no Banco Central, Banco do Brasil e com o Governo Federal. Boa parte das vítimas são evangélicas e manifestam sonhos e visões sobre o dinheiro.
“A fé é usada para fazer as pessoas acreditarem na idoneidade do negócio. Os prazos mudavam constantemente, foi quando percebi que estava sendo enganado e perdendo dinheiro”, afirmou uma vítima que não quis se identificar. A reportagem não conseguiu contato com nenhum representante das “operações”.