Como no teatro clássico, o castrismo é uma peça estruturada em três atos. O PRIMEIRO ATO foi relativamente curto e demorou de 1 de fevereiro de 1959 – data da revolução cubana a janeiro de 1964 quando o novato presidente americano Lyndon Johnson apenas 60 dias após o assassinato de John. F. Kennedy, baixou uma ordem com a qual pôs fim às tentativas para derrubar o governo comunista instalado na ilha, a somente 140 km das costas americanas.
Daquele momento com Castro garantido em sua poltrona, até 1992, transcorreu o SEGUNDO ATO, que foi o da crescente sovietização de Cuba, processo que se acelerou a partir de 1970, após o colapso econômico da ilha em meio a inflação e ao desabastecimento, desastre provocado pelo chamado “modelo chevarista”dos anos de 1960.
Finalmente de 1992, com o desaparecimento da União Soviética e o fim do enorme subsídio soviético outorgado ao improdutivo castrismo ao longo de três décadas, calculado em mais de 100 bilhões de dólares pela historiadora russa Irina Zorina, até hoje, sucede o TERCEIRO, último e ainda inconcluso ATO deste longo e bizarro episódio histórico que foi a instalação de um regime comunista nas idílicas praias do Caribe.
Com efeito, estamos no final da encenação da ditadura mais prolongada da história na América Latina, embora ninguém saiba exatamente quando terá início o desmantelamento do regime.
O próprio – e agonizante – comandante denominou essa etapa de “período especial”. Porém, para Fidel Castro é “especial” não por ser o último, mas porque durante essa longa fase, que já dura mais de 15 anos, precisou recorrer aos mais exóticos ardis, para conseguir a sobrevivência do modelo comunista, ai incluídas certas concessões menores a odiados inimigos capitalistas, mas todas elas no terreno econômico, dado que no político, manteve firme e sem fissuras seus inquebrantáveis controles stalinistas.
Os anos 1990 e, já entrando no século XXI, foram os tempos em que, mesmo de má vontade, foram toleradas certas atividades privadas, assim como o envio de divisas do exílio, a livre circulação do dólar, o turismo de massa e os investimentos mistos, nome que se deu a associações entre empresários estrangeiros inescrupulosos e o governo, voltadas a exploração da mão-de-obra incrivelmente barata e dócil de trabalhadores cubanos carentes de direitos sindicais e da possibilidade de protestar contra o confisco de até 95% de seus salários devido a um câmbio velhaco: os investidores estrangeiros pagavam 400 dólares ao governo pelos serviços de cada trabalhador, enquanto o governo, por sua vez remunerava o trabalhador com 400 pesos cubanos.O câmbio oficial era, aproximadamente, de 25 por 1; o salário real, assim era de 16 dólares mensais. 23 anos depois, os brasileiros tomaram conhecimento desde câmbio velhaco quando da vinda dos “médicos” cubanos.
Mas mesmo estas aberturas mínimas começaram a se fechar aos poucos a partir de 1999, quando Castro sentiu que o regime, após chegar ao fundo do poço, começava a se recuperar, ainda que os níveis de consumo estivessem abaixo dos que se verificava em 1989.
A conta era bastante simples: como o governo havia decretado a pobreza mais austera, qualificando-a de virtude revolucionária e declarado o consumismo um crime de lesa-humanidade, tudo os que os cubanos supostamente precisavam para alcançar a felicidade total era um mínimo de comida e roupas para subsistir – e isso se podia obter com uma magra combinação entre as exportações de níquel, as verbas do turismo, as remessas dos exilados e outros detalhes.
Revolucionário, portanto, não era viver confortavelmente, mas sim sobreviver as duras penas, lema que, além de tudo, garantia ao governo a existência de uma cidadania apática e sem expectativas, um estado de ânimo perfeito para obedecer sem reclamar.
O autor é Historiador.