sexta-feira, 11 de outubro de 2024
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Crise na Venezuela: origens do caos

Açougue na Venezuela em 2014
Açougue na Venezuela em 2014

Para compreender as manifestações e a crise na Venezuela é preciso retornar no tempo e obter informações das idéias nacionalistas e populistas de Hugo Chávez. Ele fez surgir na América Latina crenças na revolução, no nacionalismo econômico, no ódio aos Estados Unidos, na paixão pelo regime do “homem forte” em lugar da lei e que tem suas origens num complexo de inferioridade.

Eterno Cháves

O tenente-coronel Hugo Chávez Frias, ex-presidente da República Bolivariana da Venezuela, ficou conhecido em todas as partes do mundo pelos aspectos folclóricos de sua personalidade, os mais visíveis e em última instância, os mais inofensivos, levando em conta que estamos falando do homem que empenhou-se em conduzir o seu país e outros do continente com a ajuda de petrodólares, pela mesma trilha de Cuba.

Suas incontinências verbais e seu histrionismo lhe deram no mundo uma aura toda especial, que alguns qualificam  de populismo e seus admiradores de carisma, e que, de qualquer modo lhe garantiu onde quer que fosse as manchetes dos jornais.

Todos nos lembramos do memorável show em Mar Del Plata, por ocasião de uma Cúpula das Américas, quando ao lado de Evo Morales e do ex-jogador de futebol Diego Maradona, de costas para os governantes americanos, pediu um minutos de silêncio para celebrar o enterro da ALCA, a Área de Livre Comércio das Américas.

Açougue na Alemanha Oriental em 89 (© dpa - Bildarchiv)
Açougue na Alemanha Oriental em 89 (© dpa – Bildarchiv)

O ex-tenente coronel gostava de se disfarçar de mexicano típico, de cirurgião com jaleco e máscara para explicar seus programas de saúde, ou de uniforme verde-oliva para acompanhar Fidel Castro. Suas gafes foram memoráveis, seja quando fazia elogios onde não se  devia, seja quando dizia palavrões, próprios de um bêbado de boteco. Na Rússia fez elogios a Stalin, na China a Mao e no Perú a Velasco Alvarado.

Suas fobias estenderam-se aos conquistadores espanhóis e a próprio Cristovão Colombo, pelo pecado de ter “descoberto” a América.  Sob inspiração tão venenosa, seus partidários derrubaram em 2004 a estátua do Almirante no parque Los Caobos de Caracas, aos gritos de Colombo genocida!

Revelou uma aversão parecida diante dos judeus, aos quais aludiu, em um célebre discurso anti-semita em 24 de dezembro de 2005 quando mencionou “certas minorias, descendentes dos mesmos que crucificaram Jesus Cristo e se apossaram das rédeas do poder”. Em contraste, sua idolatria pelo libertador Simon Bolívar, tem um quê de culto religioso, tanto o mais que Chávez se considera seu sucessor.

Para o espanto do que o visitaram em seu gabinete, Chávez costumava manter uma cadeira vazia  a seu lado, reservada ao espírito do pai da pátria, com cujos retratos costumava dialogar  a sós. Hoje, Nicolás Maduro afirma falar com Chávez…

O fim do Comunismo na Europa: uma imagem que Cubanos desconhecem (Reprodução)
O fim do Comunismo na Europa:
uma imagem que Cubanos
desconhecem (Reprodução)

Na imagem ao lado é possível ver o fim na Alemanha Oriental: O socialismo conseguiu se tornar a maior mentira da história. Prometeu a felicidade estatal coletiva para obter vantagens privativas, comercializou a solidariedade e industrializou a boa fé.

Qual é a bagagem ideológica que Nicolás Maduro guarda na cabeça? Na verdade nada muito claramente definível. Se falarmos de Chávez, na sua formação intervieram os mais variados e confusos ingredientes: de um lado o que Jean François Revel  chamava de dejetos radioativos do marxismo, do outro o nacionalismo tricolor primário.

Também há o messianismo típico do caudilho latino americano clássico, o populismo, sulfurosas manifestações anti-imperialistas  e ensinamentos recebidos de figuras tão diversas  como Fidel Castro, Muhamar Kaddafi e até o ideólogo argentino de extrema direita Norberto Ceresole, tudo com um rótulo bolivariano que faria estremecer  na tumba o próprio Simon Bolívar.

Em resumo, um truculento guisado tropical, que leva de tudo, menos os ingredientes de uma autêntica democracia, pois o que procura, acima de qualquer coisa, é disfarçar de projeto revolucionário um apetite desmedido pelo poder absoluto.

Sérgio Campregher
Sérgio Campregher
Sérgio Campregher é historiador pela Uniasselvi/Fameblu e fala sobre política nacional e internacional e curiosidades. Escreve de Blumenau.
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