Desde o fim da União Soviética Moscou vê cada vez mais países, que antes estavam sob sua influência, se voltarem para a Organização do Tratado do Atlântico Norte – Otan. Com isso a aliança atlântica se aproxima mais da fronteira russa.
Para compreendermos o contexto é preciso saber o que é a Otan. É uma aliança militar intergovernamental baseada no Tratado do Atlântico Norte, assinado em 04 de abril de 1949. Seu quartel-general está localizado em Bruxelas na Bélgica e a organização constitui um sistema de defesa coletiva na qual os seus Estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa.
De certa forma os conflitos na Geórgia (2008) e agora na Ucrânia simbolizam a perda do poder da Rússia. A atual reação é o reflexo da perda gradativa de influência da Rússia sobre os países da antiga União Soviética.
A Rússia quer assegurar de qualquer jeito a influência que tem na região. É uma razão política e um forte efeito psicológico. A Rússia “não quer a guerra”, ela quer enviar uma mensagem ao ocidente, que está expandindo sua influência do ponto de vista ideológico do leste ao sul da Ucrânia, incluindo a Crimeia.
Isto é o resultado do fracasso de todos os instrumentos, que não sejam militares. A Rússia tenta transformar a Crimeia numa garantia de que mantém influência sobre a Ucrânia, que se aproximou demais da União Européia, na visão do Kremelin.
Mas o que também fracassou foi a diplomacia européia na Ucrânia. O acordo entre governo e oposição, intermediado pelos alemães não durou nem 24 horas e o presidente ucraniano acabou deposto.
Pouco depois soldados armados ocuparam a Crimeia. Agora a Europa e a Otan se vê diante de uma decisão crucial: ou ajudam a Ucrânia e iniciam um confronto com a Rússia ou abrem mão da integração da Ucrânia a União Européia.
A credibilidade da política da União Européia para toda a região da antiga União Soviética está em jogo: se os europeus, junto com a Otan ameaçam com sanções leves, fica claro para os países do leste que a Europa não está disposta a entrar no conflito por causa da Ucrânia. E o que dizer de estados menores como a Moldávia e a Geórgia?
A crise na Crimeia torna-se um precedente para toda a região e também para a Europa. Em jogo está nada menos que a credibilidade da União Européia perante os parceiros e também perante a Rússia.
QUEM É VLADIMIR PUTIN ?
Putin governa a Rússia desde 1999, depois da resignação de Boris Iéltsin. Seu governo é marcado por profundas reformas políticas e econômicas, pelo estatismo, por novas tensões com os Estados unidos e Europa Ocidental e pelo resgate do nacionalismo russo, atitudes próximas ao antigo regime soviético.
YELTSIN RECEBE PUTIN NO KREMLIN EM 1999
Os líderes ocidentais, com expectativas exageradas no “progresso russo para a democracia”, em 1992 comprometeram-se em apoiar Yeltsin acreditando erroneamente que ele era sincero, que gostava de uma relativa liberdade como Presidente e que prosseguiria nas políticas “reformistas” de Gorbachev. Seu atual sucessor está demonstrando o quanto estavam errados.
Por dezesseis anos, Putin foi oficial do KGB, o serviço secreto da União Soviética (foi tenente coronel). Goza de considerável popularidade, com altas taxas de aprovação geral devido o retorno da estabilidade política e do progresso econômico da Rússia, pondo fim à crise dos anos de 1990.
Por outro lado, várias de suas ações têm sido caracterizadas como antidemocráticas, graças à mudança de um governo híbrido para um regime autoritário.
No exterior Putin projeta uma imagem pública de aventureiro, homem viril, sempre engajado em atividades perigosas e incomuns. Algumas destas jogadas publicitárias são criticadas ocasionalmente.
Na política interna Putin, visou a criação de um “poder vertical” (sancionou um decreto dividindo as 89 subdivisões da Rússia entre 7 distritos) comandado por representantes nomeados por ele próprio, de forma a facilitar a administração federal.
Dentro da Rússia Putin não teve coragem de pedir perdão em público aos familiares das vítimas do massacre de Beslan pela incompetência das autoridades durante o seqüestro. (331 reféns, entre eles 186 crianças, morreram na escola de Beslan).
Putin jamais seguirá o exemplo de Mikhail Gorbachev que foi galardoado com um Grammy, juntamente com Bill Clinton e Sophia Loren pela narração conjunta do disco Pedro e o lobo do compositor ucraniano Serguei Prokofiev ( uma versão moderna da história, com intuitos ecológicos – o que vai ao encontro das preocupações ambientais que têm marcado os últimos anos).
Bill Clinton, Mikhail Gorbachev e Sophia Loren são premiados com um Grammy
O impossível também acontece: no filme, Gorbachev narra a introdução e epílogo da história; Sophia Loren narra o conto e Clinton reconta a história sob a óptica do Lobo.
Putin prefere outro: Pedro o Grande, autocrata e imperador de toda a Rússia, que dedicando-se aos estudos militares e náuticos, tinha um lado negro – gostava de acompanhar torturas.