Faz uma semana que tive a oportunidade de visitar uma escola de educação infantil, a Emilia Piske. Minha presença por lá tinha uma razão além de apenas observar: eu havia sido convidada a ler em inglês para as turmas, como parte de um projeto novo da instituição, que visa fazer com que seus pequenos alunos entrem em contato com línguas estrangeiras.
Estava aí um desafio: eram só meninos e meninas de 5 anos, mas nunca li para uma audiência que não entendesse o idioma que eu estava usando, e me perguntava como seria capaz de manter a atenção delas. É claro: besteira minha.
Crianças costumam ser superiores às nossa preocupações adultas, habitando um mundo próprio, onde tudo faz bastante sentido. Elas acham seus meios e suas explicações. Enquanto eu fazia a leitura, um garotinho dizia: “Mas o título não é esse,” porque só conhecia o livro em português. Seu colega logo respondeu: “Não liga, ela fala errado, só a gente fala certo.” É possível ficar ofendida? É meio óbvio que não, então só dei risada, porque me lembro de ser assim, de estar com a idade deles e de achar que o que adultos falavam era sempre alguma besteira. Mas as classes se comportaram surpreendentemente bem pela duração da leitura. Não sei o que as segurou ali: a estranheza do que eu falava ou a comicidade que elas enxergavam em mim.
Fui guiada em exploração pelo restante da escola: eles têm um bosque e criam galinhas e outros animais. Ficava pensando: “queria ter isso quando era pequena, esse contato com a natureza.” E como aquele bosque, que não era pequeno, mas que nunca seria grande demais para um adulto, deve parecer um continente gigantesco e misterioso para as crianças.
Cresci em cidade grande. Nossas escolas infantis eram fechadas entre muros e não havia muito o que explorar. Pelo menos aquelas que frequentei: não faço juízo das outras opções que devem existir por aí, principalmente tantos anos depois, mas andar pela Emilia Piske, aqui em Blumenau, me deu um pouco de nostalgia. Não tanto daquilo que vivi, mas do que gostaria de ter vivido. Faz algum sentido? Nostalgia de algo que não é parte do seu passado?
Foi um prazer tomar café com as responsáveis pela a escola. São todas bem intencionadas e sempre à procura de novas formas de estimular suas crianças com um aprendizado mais livre e, portanto, que oferece oportunidades muito mais amplas.
Estava em andamento um projeto sobre dinossauros. Como começou?, eu perguntei. “Um dos nossos alunos ama dinossauros, e passou a despertar o interesse das outras crianças, aí decidimos estudar tudo que era possível sobre eles.” Que coisa mágica: a criança decide o que a interessa e aquilo sobre o que deseja saber mais.
Estão chegando a conclusões próprias, os alunos. Em um mural onde eles postam seus desenhos e respondem à pergunta “O que é um dinossauro?,” alguém deixou um comentário que só posso descrever como revolucionário: “É para comer pizza.”