Artigo acadêmico de David Goulart Nunes e Gustavo Funez, graduandos de História na Universidade do Sul de Santa Catarina (Unisul), sob a orientação do professor e coordenador do Curso de História, Alexandre de Medeiros Motta. O estudo aponta a importância das iniciativas alemãs na colonização catarinenses, contrastando o desenvolvimento de distintas colônias do estado, entre elas a de Blumenau.
Download: Pesquisa Imigrantes (UNISUL, 2017)
Contribuição da “Sociedade de Proteção aos Emigrantes Alemães” às colônias alemãs catarinenses
O povoamento de Santa Catarina se deu de forma distinta quanto a outros estados. Sua ocupação foi, inicialmente, um reflexo de movimentos militares, em relação ao conflito com a Espanha na colônia de Sacramento, e também da atividade de tropeiros; ambos os casos possuindo maior intensidade no século XVIII.
Entretanto, o ponto levantado neste trabalho se relaciona com outra questão do povoamento catarinense; a participação de imigrantes europeus no processo civilizatório, mais especificamente dos alemães, e nesse caso, as particularidades da colonização.
Com a independência do Brasil, em 1822, as primeiras empreitadas foram elaboradas tendo em vista o povoamento do sul, pela urgente necessidade de, não somente povoar, mas de mantê-lo sob domínio do império. Com os primeiros projetos colonizadores a surgir, consequentemente, em 1828, dá-se a primeira instalação alemã no estado catarinense, a colônia de São Pedro de Alcântara.
Na medida em que os colonos recém-chegados exploravam e derrubavam a mata, para instalarem os primeiros ranchos, que em maio de 1829 já chegavam ao número de 36, as reclamações destes foram se intensificando, até chegarem ao governo imperial.
Conforme Cabral (1994, p.206), “[…] o local, entretanto, não foi o melhor pois, embora de terras férteis, é montanhoso e acidentado e à sua intensa cobertura florestal se atribui a má escolha de Silvestre José dos Passos. Devido a isto, não tardaram as reclamações dos colonos […]”.
Na maioria dos casos, no início do século XIX, os alemães já situados no estado trabalhavam em lavouras cafeeiras, porém sem obter o retorno que imaginavam. Tais problemas causaram um embaraço a imagem exterior do Brasil como alvo de campanhas imigratórias, como afirma Piazza (1994, p.124): “Ele [imigrante alemão] apresentava, em várias oportunidades, problemas de adaptação e convivência, resultando, daí informações prejudiciais ao Brasil, no contexto da propaganda imigratória europeia e, notadamente, germânica”.
Nas décadas seguintes, para evitar que os mesmos infortúnios de São Pedro de Alcântara ocorressem, o território do estado passou a ser melhor estudado antes de serem alvos de levas imigratórias.
A respeito da iniciativa, Costa (2011, p.129) comenta: “Na Alemanha, foram organizadas sociedades de emigração, dentre as quais cabe destaque à Sociedade de Proteção aos Emigrantes Alemães, que objetivava verificar a situação de vida dos colonos no Brasil e a possibilidade de quem mais pudessem vir”.
Posteriormente, sob a então Sociedade, funda-se a colônia alemã de Blumenau, no curso do rio Itajaí-Açu, possuindo notável desenvolvimento, em contraste com outras colônias, que, em determinados casos foram descontinuadas ou anexadas a outros municípios; estas não obtiveram um crescimento populacional, nem manufatureiro.
Ao analisarmos o crescimento de São Pedro de Alcântara e Blumenau, é possível notar um grande contraste. Na primeira, segundo Cabral (1987, p.208) “[…] a disciplina da colônia se alterou com a presença de grupos turbulentos a provocar desavenças entre os colonos”.
Cabral (1994, p.209) demonstra que de 1828 a 1854, num período de trinta e seis anos, a colônia de São Pedro de Alcântara registrou uma população máxima de 1.500 habitantes; enquanto que a colônia mais ao norte de Blumenau alcançou um crescimento muito mais acelerado. Ao passo que Cabral (1994, p.216), ao fazer uma análise sobre o ingresso de imigrantes, constata que em 1850 Blumenau recebe apenas 16 imigrantes alemães, Piazza (1994, p.128) demonstra que, surpreendentemente, vinte anos depois, a cidade já contava com 6.000 habitantes.
Frente aos dados apresentados, podemos concluir que a participação da “Sociedade de Proteção aos Emigrantes Alemães” teve contribuição significativa e direta, não só para o desenvolvimento das colônias alemãs, mas para a própria Santa Catarina. Com uma migração organizada, as colônias também eram bem instaladas. O funcionamento das colônias reflete diretamente em seus resultados. Os colonos que se instalaram no estado antes da participação da ‘Sociedade de Proteção aos Emigrantes Alemãs’ enfrentaram diversas intempéries. Além lidarem com terrenos com mata densa, os colonos se sentiam desmotivados, fazendo com que, segundo Seidler (1980, p.252-253), “muitos dos mais abastados pensassem em regressar à pátria, enquanto ainda tinham o dinheiro para o transporte, mas foram retidos no país odiado até a morte, pelo receio diante da zombaria de seus conterrâneos […]. Um desterrado nunca vem a ser um cidadão feliz”.
A iniciativa da ‘Sociedade de Proteção aos Emigrantes Alemães’ se deu não com o objetivo de atender a confortos ou a requintes dos colonos, mas a suprir, principalmente, a subsistência daqueles que partiram de sua pátria para uma realidade totalmente diferente, uma realidade que serviria como fuga para a vida que possuíam.
REFERÊNCIAS:
CABRAL, Oswaldo Rodrigues. História de Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli Editora, 1994.
COSTA, Sandro da Silveira. Santa Catarina: História, Geografia, Meio Ambiente, Turismo e Atualidades. Florianópolis: Postmix Editora, 2011.
PIAZZA, Walter. A Colonização de Santa Catarina. Florianópolis: Lunardelli Editora, 1994.
SEIDLER, Carl. Dez Anos no Brasil. São Paulo: Ed. Da Universidade de São Paulo, 1980.