Primeiramente devo esclarecer que não há, por minha parte, qualquer sentimento agradável quanto ao governo Cubano. Governos estabelecidos por meio de armas somente saem por meio delas, é lamentável. Da mesma forma, mesmo sem somar qualquer afago ao governo cubano, parece-me que foi através dele que o senhor Jair Bolsonaro esteja aprendendo que governar não é discursar a toque de caixa para uma multidão enfurecida na Avenida Paulista.
O futuro governo do Brasil novamente entregou-se em devaneios de uma onda casuística. A diferença, desta vez, é que a entrega não foi por inteira. As declarações do senhor Bolsonaro sobre o programa “Mais Médicos” foram mais brandas em relação aos discursos anteriores, mas, pelo peso da faixa presidencial, as consequências foram dolorosas.
Maçantes assuntos sobre as relações exteriores não parecem ter a devida atenção ao futuro governo, mas, como estão aprendendo a governar, tal caso pode servir como uma valorosa lição ao futuro presidente. O Brasil não pode ser governado por meio de atitudes rompantes e amadoras, é preciso reconhecer, os médicos cubanos são ou foram um tesouro valioso e uma solução digna aos problemas do país. Os profissionais precisam de reconhecimento e gratidão de nosso povo.
O programa, que dá a prioridade aos médicos brasileiros, é um alento nas regiões onde não há médicos. De acordo com Rodrigues, médico cubano que entrou no programa no anos 90, a decisão de retirada dos médicos vai desmantelar o sistema de saúde.
Segundo ele, existem lugares que só tem médicos cubanos e os prefeitos se apoiam nisso. Santa Catarina contava com 250 profissionais em 200 cidades. Em 2015, eram 15 profissionais atuando na cidade Blumenau. Já no interior de São Paulo, na cidade de Mauá, em 2010 e 2011, a pesquisadora Melissa diz que Mauá chegou a oferecer salários mais altos aos médicos que os oferecidos pela capital, mas ainda assim não conseguiu suprir a cobertura. Nessa cidade, a cobertura na atenção primária que era de 60,49% em 2012 chegou a 75% no ano passado com o reforço dos cubanos.
Os dados mostram, fomos ingratos
E teimosos. Insistimos em não reconhecer a qualidade do programa por uma vaidade juvenil, soberba e casuística. Os que dormem tranquilos com seus planos de saúde apequenaram o programa por simplesmente estarem convencidos da falta de capacidade dos profissionais. Por estes motivos, peço desculpas aos especialistas.
Talvez ainda há tempo para uma afirmação de conciliação por parte do novo Governo. Estamos falando dos problemas da nação, e não de discursos para animar eleitores.