Em outros países não é raro a presença de alguém na rua vestindo a camisa da Seleção Brasileira. Algumas vezes são cidadãos do próprio país que, dessa forma, querem expressar sua admiração pelo nosso futebol. Outras vezes são brasileiros que desejam ser identificados como tal, achando que assim serão mais bem recebidos. Puro engano. Que ponham todos a barba de molho, pois nosso futebol já não desperta paixão há tempo. É muito mais fácil encontrar fãs do Barcelona e de outas equipes das ligas europeias. Nosso futebol, com equipes que encantaram, é coisa do passado, só ficou mesmo a fama.
A Copa do Mundo agora é uma chance de reabilitar parte da mística, entretanto, como quase todos os convocados atuam ou já atuaram no futebol europeu, os adversários não esperam nenhuma surpresa. Bons tempos em que a Seleção chegava na Copa com jogadores totalmente desconhecidos pela imprensa internacional e dava um show. O Brasil podia nem ganhar, mas ficava a marca. O propósito aqui, no entanto, é falar menos de futebol e mais nas implicações da Copa na nossa imagem.
Recentemente Juca Kfouri, uma das maiores referências do colunismo esportivo do país, disse que diariamente é procurado por jornalistas do mundo todo para falar sobre futebol e das condições do Brasil na promoção desta Copa. O que os jornalistas estrangeiros questionam é justamente a improvisação, a falta de segurança, o caos no transporte, o caos na saúde e outras coisas mais de negativas que estão à vista de todos. Para eles fica muito claro que o Brasil se lançou numa aventura quando resolveu assumir a Copa do Mundo. E tudo isto está saindo na imprensa internacional e vai sair com mais ênfase ainda durante os jogos.
Andou até circulando nos sites e nas redes sociais a história de um jornalista dinamarquês que foi embora do Brasil antes da hora com medo de ser morto por estar fazendo um documentário denunciando as péssimas condições de Fortaleza, onde até crianças de rua teriam sido mortas para “limpar” a área turística. Até onde esse jornalista disse a verdade é um mistério, pois ele admitiu que não se certificou a respeito das informações recebidas. De qualquer forma, a Copa já garantiu o estrago na nossa imagem. Não que isto vá baixar a nossa autoestima, porque ela não depende do que os outros pensam a nosso respeito. Mas é bom que brasileiros se tornem mais cautelosos ao andar de verde e amarelo pelas ruas no exterior.
Anos atrás, já passado algum tempo daquele abominável caso do assassinato de crianças que dormiam perto da igreja da Candelária, no Rio, fui questionado por um recepcionista de um hotel na França sobre o episódio. Sabendo de minha nacionalidade, ele me perguntou de cara por que é que no Brasil se matava crianças pobres na rua. Esta pergunta ele me fez diante de turistas de outras nacionalidades que me olharam como se eu tivesse cometido o crime. A indelicadeza da pergunta talvez tenha sido proporcional à qualidade do hotel, mas pensei em dar uma resposta elegante. Ficou só na intenção, pois eu estava desprevenido e a língua travou. Tudo o que dissesse a partir dali poderia cair no descrédito. Como não havia buraco ou gaveta aberta onde enfiar a minha cara, disse simplesmente que isto não ocorria, pois os brasileiros adoravam crianças. “E a respeito do Rio?” – voltou ele à questão. “Foram traficantes de drogas”, respondi meio confuso. “Não” – disse ele. “Foram policiais”. Estava encerrado o assunto. Disfarcei e saí pra rua com vergonha de ser brasileiro.
O autor é jornalista