sábado, 20 de abril de 2024
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Meus relógios sem pilhas

Sempre gostei de relógios, tenho em minha gaveta dois modelos completamente diferentes. O Relógio que uso para enfrentar os perrengues cotidianos é de pulseira marrom e possuí um estilo classicão que,se meu saudoso avô estivesse vivo, usaria tranquilamente. O outro modelo é da última coleção modinha de uma marca que quer atrair o público jovem.

A semelhança que interliga o relógio classicão ao da modinha é que os dois não possuem pilhas, ou seja, não funcionam.

Em meu quarto aboli os relógios. O aparente caça às bruxas que foi aderido por mim contra o controle de tempo, é, na verdade, um caça às bruxas contra o tempo perdido.

Somos, cotidianamente, esmagados pelo tempo. Acordamos, e, ao longo do dia, torcemos para que o tempo urja a nossa maneira. Possuímos pressa para ver os ponteiros andarem mais devagar, como, ao mesmo tempo, temos vontade de chegar ao fim do dia o mais rápido possível.

Somos imperfeitos seres contraditórios.

O professor Cortellaescreveu que os relógios digitais não deram certo, porque neles não era possível verificar visivelmente “quanto tempo falta para acabar…”.

Cortella, acertou mais uma vez.

Estamos correndo contra o tempo e nunca a favor dele. Por exemplo: se, no caminho para casa,  a natureza resolve exibir-se em alguma paisagem digna de contemplação, preferimos tirar uma foto para apreciar mais tarde. Ou, se uma, das tantas mensagens insignificantes entram em nossa caixa de entrada, respondemos ali mesmo, no meio do caminho, afinal, é certo que não temos tempo para perder, correto?

Estamos, sempre trabalhando ou esperando que chegue o fim do fim… Torcemos para chegar o fim do dia, o fim do trabalho, o fim…. Porém, quando chega, o fim acaba com nós.

As situações que são “caras” para nós, se não aproveitadas no momento exato em que acontecem, são destruídas pelo passar do tempo. Mesmo assim, preferimos fazer inúmeras contagens regressivas para fatos sem importância e que serão esquecidos daqui a um ou dois anos.

É preciso valorizar o tempo em que nos foi permitido viver, para isso acontecer é necessário nos permitir a sentir, e, principalmente, dar importância aos motivos que fazem nosso coração vibrar, longe da tirania dos relógios.

Porque os ponteiros dos relógios, quando acionados, quebramos nossos medos em horas, as nossas tarefas em minutos e  reduzem nossa vida em segundos.

Felipe Gabriel Schultze
Felipe Gabriel Schultze
Formado em Direito, escreveu os livros 'Federalismo Brasileiro' e 'Sede de Liberdade'. Escreve sobre reflexos do cotidiano.
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