quinta-feira, 28 de março de 2024
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Blumenau

Um dia (ou meia hora) no parque Ramiro Ruediger

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Parque Ramiro (Maria Clara Madrigano)

A ideia imediata que o parque Ramiro Ruediger me passa é esta: pessoas em forma por todos os lados, determinadas, por sua mera existência, a fazer com que eu me sinta envergonhada, lenta e preguiçosa e longe de alcançar meus objetivos de saúde (que eu nem sei bem quais são). Assim que atravessarmos o portão, nos deparamos com um grupo praticando seus alongamentos na grama, sob orientação de um professor e de dois gansos curiosos, que assistiam a tudo em perfeita concentração, quase como se monitores dos exercícios.

Há mais no parque além de pessoas se aquecendo; há as bicicletas, que cruzavam velozmente conosco, montadas nelas o epítome do ser humano ideal, em seu auge físico, a criatura mítica que de fato acorda às seis da manhã para correr ou pedalar ou se movimentar (às seis da manhã de qualquer sábado você me encontraria na cama; lendo, comendo biscoitos, vendo Discovery ID e reclamando da vida, tudo ao mesmo tempo). Aos heróis da bicicleta: meus poemas nunca escrito, dedico-os a vocês. Porque vocês são mesmo heróis. Quisera eu ser dona de uma bicicleta, mas a ideia, o sonho que fica a crescer na minha mente, logo se depara com a realidade: é difícil andar de bicicleta por Blumenau. As ciclovias não são respeitadas, o ciclista não é respeitado, a bicicleta não é respeitada. Resta pedalar em lugares fechados, bem delimitados, como um parque, mas parques poucos significam para o ciclista que não é ocasional; que optaria pela bicicleta como alguém opta por um automóvel.

Andamos um pouco mais. Paro para tirar fotografias e treinar minha (falta de) habilidade com a câmera, na esperança de que algum dia eu deixe de ser uma fotógrafa medíocre e passe a ser uma fotógrafa mais ou menos medíocre (com tendência para o menos). Uma largarta cai em mim, bem em cima dos meus óculos. Uma lagartinha verde e extremamente rápida, o que me faz ter um pequeno ataque e me sacudir no meio do parque, até a lagarta se desgrudar de mim (querida lagarta: espero que eu não tenha te esmagado no processo. Nada tenho contra sua espécie, foi uma reação puramente instintiva e patética). Recomposta, continuo a prática: tiro fotos do lago, onde patos grasnam e atacam uns aos outros; tiro fotos da pequena ilha construída no meio do lago citado, um oásis infantil, cheio de brinquedos de playground, crianças passando a todo momento, suadas e naquele êxtase infantil que só a chegada do fim-de-semana pode causar. Em determinado momento, começo a escutar a música de uma saxofone solitário, o que, na minha cabeça, só pode significar duas coisas: ou o Apocalipse aproxima-se ou acabamos de entrar no meio da filmagem de um filme erótico B.

Mas estou enganada: a verdade é mais estranha do que a ficção. Quem toca seu sax solitário é um homem vestido de palhaço, escondido entre os tatames que logo serão montados no chão para uma turma infantil de judô. O artista-palhaço se esconde de nossas fotos. Não conversa conosco, só continua a tocar sua música triste. Por fim, resignado, ele permite alguns cliques, que guardarei para me recordar de quão estranho pode ser um simples passeio pelo Ramiro Ruediger.

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