quinta-feira, 25 de abril de 2024
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Furor patriótico, pro bem e pro mal

Diz a lenda que em batalhas da Idade Média os guerreiros escoceses eram motivados pelo som das gaitas de fole. Com o som agudo das gaitas o inimigo tremia, pois dava uma dimensão maior às tropas e fazia o guerreiro escocês triplicar sua bravura. Isto pode ter acontecido mesmo. Se há centenas de anos já se recorria à música para inspirar os batalhões, não é muito diferente hoje, embora numa situação distinta.

Quando se vê a seleção de futebol de um país cantar seu hino com fervor patriótico é indicação de que a partida está sendo encarada como um combate, o que está em jogo é a honra do país. Assim tem sido nos jogos do Brasil desde a Copa das Confederações, ano passado, em que, no Hino Nacional, jogadores e torcedores continuam perfilados cantando, mesmo depois de o hino ter sido cortado. A julgar pela expressão grave, alguns estão não com fervor, mas com furor patriótico. Tomara que essa garra nos leve até 13 de julho.

Covardia

O furor se revela também de forma danosa, como nos xingamentos dirigidos à presidente Dilma na abertura da Copa. Recorro ao jornalista Florestan Fernandes Jr., que no dia seguinte à estreia do Brasil questionou: “Onde estavam ontem os políticos que festejaram a escolha do Brasil como sede da Copa de Mundo de 2014? Onde estavam: Lula, Sérgio Cabral, Eduardo Campos, Aécio Neves, José Serra, Jaques Wagner, Yeda Crusius, Cid Gomes, Carlos Eduardo de Sousa Braga, Wilma de Faria, Roberto Requião, José Roberto Arruda, Blairo Maggi? Onde estava Marina Silva que queria uma sede no Estado dela, o Acre? Onde estavam os prefeitos, senadores, deputados, âncoras de televisão e rádio que queriam tanto a Copa do Mundo? Onde estavam os prefeitos e governadores responsáveis pelas obras exigidas pela Fifa? Ontem, coube a uma única mulher receber toda a agressão de uma torcida rica e privilegiada que conseguiu ingressos para o jogo de abertura em São Paulo. Uma elite raivosa que não perde a chance de destilar seu ódio de classe, seus preconceitos e sua falta de educação”.

Um lado da questão é essa covardia desses que ficaram com medo de ir ao Itaquerão. Outro, foi a grosseria dessa “elite raivosa” – como classificou Fernandes – que não mediu a sua deseducação diante de uma mulher e sua filha com uma ofensa das mais baixas, desrespeitando todas as mulheres e famílias presentes no estádio. Na falta de uma forma menos servil, antigamente costumava-se chamar a elite econômica de “pessoas de bem”. Isto porque essa elite sempre deu as cartas e estabeleceu os padrões de comportamento. Hoje vemos que os exemplos mais abomináveis partem dessas pessoas de bem. Sangue ruim, isto sim.

Neymar durante jogo contra o México (Créditos: Ricardo Stuckert / CBF)
Neymar durante o jogo contra o México (Ricardo Stuckert/CBF)

Copa das Copas

Não dá para saber se era megalomania ou tentativa de afastar o fantasma do fracasso, começaram a dizer que a Copa no Brasil seria a Copa das Copas. A sua organização foi um caos, o seu preparo incompleto e ainda houve toda essa confusão do pessoal que criou um clima de terror. Como Deus é brasileiro, está dando tudo certo, e tem havido jogos que vão ficar na história. A propósito, acho que Deus não gosta de concorrência e por isso está atrapalhando alguns “semideuses” como Cristiano Ronaldo e Messi. Depois que Maradona disse que o gol que marcou contra a Inglaterra em 1986 foi La mano de Dios, Deus está tomando cuidado para que nenhum arrogante se aproprie de outro membro seu. Na forma chula de se expressar, imaginem que parte de Deus usariam para falar da “enfiada” aplicada por holandeses e alemães aos espanhóis e portugueses…

O autor é jornalista

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