sexta-feira, 29 de março de 2024
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Quando se viu sozinho

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Quando se viu sozinho

O que é já era, e ele posou lá. Escolheu as cidades dos ventos, onde tudo passa, voa e some. Quis recomeçar, começar, redefinir e realizar todos os substantivos existentes para alguém que as rugas do rosto serviram apenas para arrependimentos. Primeiro, no passado, ele acreditou que o erro era de todos, tinha tudo, ou quase tudo. Podia, com o heroísmo dissimulado de grandes heróis, fazer o tudo. Não fez, teimou, brigou se ausentou, ficou só. Confundiu teimosia com persistência. A solidão foi sua melhor amiga até ele brigar com ela, teimou com ela, como de praxe, os dois não se deram bem. Foi assim na sua vida, amarga, escura e fria. Toda a vida de qualquer um passa por estes momentos, mas a dele, por sua teimosia e por ter abraçado a solidão como uma querida ficou assim eterna.

Em um sopro de loucura, uma epifania que somente os apaixonados possuem, ele, de modo insano, como foi sua vida, percebeu o que eram seus conceitos, adjetivações e paradigmas eram rasos como um sabonete usado durante um banho dos amantes. Ele enxergou que no espelho seus olhos beiravam tristeza, seu estomago era preenchimentos da comida ingerida pela paranoia dos amigos ocultos não serem amigos.

Viver por conceitos, confundir teimosia com persistência o levou a ilusão de homem que lutava. Ele viu agora, diante do espelho quebrado que o deixar de lutar por alguém é tão importante quanto lutar por algo.

Deixar a família por horas por conta de um trabalho é sensatez, mas ele viu que deixar ela meses por um punhado de dinheiro final do mês é egoísmo, era certo que era o mais velho dos egoísmos já feitos. Deixar de acreditar em uma convicção por conta do mundo é arriscado, mas brigar por ela e perder a amizade de um velho amigo é burrice, só agora ele viu isso. Trocar o eu por grande amor é loucura mas era uma loucura necessária, loucura arriscada com o melhor dos egoísmos já proferidos. Ele viu só agora que errar é humano, mas errar por amor é divino. São as loucuras que nos fazem ridiculamente humanos.  Sem as loucuras dos apaixonados, dos errantes, dos cantores, dos jovens irresponsáveis e dos velhos sanis, dos clows de shakespere a gravidade nos derrubaria, é o caos do nosso coração que nos equilibra. É isso nos fazem errados, errantes em uma estrada que todos estão meio perdidos mesmo.  Sem ela seriamos o pó, não teríamos o que limpar, nem ao que amar, e muito menos sem o que se desculpar.

Agora estava lá, brigando consigo mesmo, procurando resetar o jogo, começar de novo dsua adolescência, voltar atrás ou qualquer coisa que o tirasse da dor de ver que tudo foi errado. Não achou o botão. Queria rever os conceitos dos outros, mas estavam sem tempo, os outros queriam dançar sob as horas do esquecimento, a ele somente resta viver o passado.

Ele posou lá, o “lá” era sua consciência, antes fora da realidade, distorcida por si mesmo, estava conhecendo o território conhecido.

Felipe Gabriel Schultze
Felipe Gabriel Schultze
Formado em Direito, escreveu os livros 'Federalismo Brasileiro' e 'Sede de Liberdade'. Escreve sobre reflexos do cotidiano.
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