quinta-feira, 28 de março de 2024
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Blumenau

O folclórico trânsito de Blumenau

Quem souber, por favor, responda: o que faz com que aquele filho querido e dedicado, que ao sair de casa dá um beijo na mamãe, no papai e na vovó, transforme-se num monstro psicopata, assim que entra no carro? E por que aquela filha exemplar e carinhosa, que namora firme e vai bem na faculdade, se traveste numa estúpida indolente, que dirige e fala ao celular ao mesmo tempo? E como pode aquele amigo boa praça e inteligente se converter num perfeito energúmeno, que enche a cara de cachaça e vai dirigir? Os psicólogos têm explicação. A polícia também. Mas o povão, que vai ao velório, chora sobre o caixão e enterra seus entes queridos é quem tem a medida exata na análise desses estultos com carteirinha de motorista (carteirinha, no diminutivo mesmo).

Já morei em alguns lugares desse grande Brasil. Nunca vi uma cidade que desrespeita e secundariza tanto o pedestre quanto Blumenau. É mais fácil ver um Saci Pererê do que não ver motoristas rasgando o sinal do amarelo para o vermelho. E em semáforos movimentadíssimos, como o da Rua Antonio da Veiga, defronte ao supermercado e a Furb. Aliás, esse semáforo tem dez segundos. Vou repetir: dez segundos. Isso prova o quão desumano é o trânsito em relação ao pedestre e a quem ele privilegia.

Outro dia uma amiga disse que por ela, pararia em todas as faixas para o pedestre atravessar. Segundo ela, o problema são os outros que vem atrás em alta velocidade. Já perdeu as contas de quantas vezes foi xingada por parar na faixa de pedestre. Mas noto que mesmo em dias menos movimentados, aquele ser atrás do volante, ignora o pobre transeunte. Alguns podem até dizer que o pedestre também não respeita o semáforo e atravessa correndo perigo. É verdade. Mas deixemos a hipocrisia de lado e imaginemos o que acontece numa “colisão” entre um automóvel e um ser humano. Não precisa ser nenhum cientista genial para saber o resultado.

Conheço Carapicuíba. Cidade da Grande São Paulo. Lá não se fez mágica para coibir motoristas encarnados de espírito de dublês de Fórmula 1. Simplesmente lotou-se a cidade de quebra-molas, redutores de velocidade ou lombadas, deem o nome que quiserem. Tem faixa de pedestre? Tem quebra-molas. Ali adiante tem outra faixa de pedestre; quebra-molas lá também. Funcionou. Os motoristas reclamam que gastam muito com troca de amortecedores. Os pedestres não. Neste caso valeu a vontade da maioria. E ao que parece a vontade da maioria chama-se democracia, a não ser que o nefasto relativismo do politicamente correto venha a corromper esse fato também.

Em maio deste ano foi alardeado uma campanha para que o motorista respeitasse a faixa de pedestre. Pensei: “agora vai”. E estou esperando a campanha e nada. Por esse tempo comecei a notar fotos de cachorro postas rés a chão em alguns semáforos. A princípio pensei que fosse uma propaganda de pet shop, comercial de marca de ração e até um dono procurando seu cãozinho perdido. Era tão acanhado e insignificante que nem me dei ao trabalho de ver do que se tratava. Inacreditável, mas aquilo já era a tal campanha. E o que é mais bisonho: somente os motoristas que estivessem nas laterais da via conseguiam ver o resultado da “campanha”. As fotos dos cãezinhos já se foram e a tímida campanha que mal começou também. Não adianta. Faixa de pedestre só acompanhada de quebra-molas.

Perdeu, amigo. Se não respeitam nem a faixa, imagina você! (Jaime Batista)
Perdeu a cabeça? Se não respeitam nem a faixa, imagina você! (Jaime Batista)

E pensar que a ONU declara Blumenau como a 25ª cidade com melhor IDH de todo o Brasil. De que adianta se o IDH do trânsito é tal alto quanto uma moeda no chão? Onde se reflete esse índice quando o assunto é o embate entre o automóvel e o ser humano? E nem estamos falando em períodos de festas de beberagem, onde o álcool rola à vontade enquanto sacis e mulas-sem-cabeça são encarregados de cuidar do trânsito. Respeito ao pedestre no trânsito de Blumenau é mero folclore.

Nilton Borges é cidadão, consumidor, pagador de impostos, contribuinte, eleitor

Nilton Borges
Nilton Borges
Nilton Borges é cozinheiro, radialista, artista plástico, jornalista, bartender, artesão, cidadão, contribuinte, consumidor, eleitor
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