sexta-feira, 29 de março de 2024
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Crimeia

Desde o fim da União Soviética Moscou vê cada vez mais países, que antes estavam sob sua influência, se voltarem para a Organização do Tratado do Atlântico Norte – Otan. Com isso a aliança atlântica se aproxima mais da fronteira russa.

Para compreendermos o contexto é preciso saber o que é a Otan. É uma aliança militar intergovernamental baseada no Tratado do Atlântico Norte, assinado em 04 de abril de 1949. Seu quartel-general está localizado em Bruxelas na Bélgica e a organização constitui um sistema de defesa coletiva na qual os seus Estados-membros concordam com a defesa mútua em resposta a um ataque por qualquer entidade externa.

Vladimir Putin
Vladimir Putin

De certa forma os conflitos na Geórgia (2008) e agora na Ucrânia simbolizam a perda do poder da Rússia. A atual reação é o reflexo da perda gradativa de influência da Rússia sobre os países da antiga União Soviética.

A Rússia quer assegurar de qualquer jeito a influência que tem na região. É uma razão política e um forte efeito psicológico. A Rússia “não quer a guerra”, ela quer enviar uma mensagem ao ocidente, que está expandindo sua influência do ponto de vista ideológico do leste ao sul da Ucrânia, incluindo a Crimeia.

Isto é o resultado do fracasso de todos os instrumentos, que não sejam militares. A Rússia tenta transformar a Crimeia numa garantia de que mantém influência sobre a Ucrânia, que se aproximou demais da União Européia, na visão do Kremelin.

Mas o que também fracassou foi a diplomacia européia na Ucrânia. O acordo entre governo e oposição, intermediado pelos alemães não durou nem 24 horas e o presidente ucraniano acabou deposto.

Pouco depois soldados armados ocuparam a Crimeia. Agora a Europa e a Otan se vê diante de uma decisão crucial: ou ajudam a Ucrânia e iniciam um confronto com a Rússia ou abrem mão da integração da Ucrânia a União Européia.

A credibilidade da política da União Européia para toda a região da antiga União Soviética está em jogo: se os europeus, junto com a Otan ameaçam com sanções leves, fica claro para os países do leste que a Europa não está disposta a entrar no conflito por causa da Ucrânia. E o que dizer de estados menores como a Moldávia e a Geórgia?

A crise na Crimeia torna-se um precedente para toda a região e também para a Europa. Em jogo está nada menos que a credibilidade da União Européia perante os parceiros e também perante a Rússia.

Putin e Léltsin
Putin e Léltsin (periloustimes)

QUEM É VLADIMIR PUTIN ?

Putin governa a Rússia desde 1999, depois da resignação de Boris Iéltsin. Seu governo é marcado por profundas reformas políticas e econômicas, pelo estatismo, por novas tensões com os Estados unidos e Europa Ocidental e pelo resgate do nacionalismo russo, atitudes próximas ao antigo regime soviético.

YELTSIN RECEBE PUTIN NO KREMLIN EM 1999

Os líderes ocidentais, com expectativas exageradas no “progresso russo para a democracia”, em 1992 comprometeram-se em apoiar Yeltsin acreditando erroneamente que ele era sincero, que gostava de uma relativa liberdade como Presidente e que prosseguiria nas políticas “reformistas” de Gorbachev. Seu atual sucessor está demonstrando o quanto estavam errados.

Por dezesseis anos, Putin foi oficial do KGB, o serviço secreto da União Soviética (foi tenente coronel). Goza de considerável popularidade, com altas taxas de aprovação geral devido o retorno da estabilidade política e do progresso econômico da Rússia, pondo fim à crise dos anos de 1990.

Por outro lado, várias de suas ações têm sido caracterizadas como antidemocráticas, graças à mudança de um governo híbrido para um regime autoritário.

Intransigência de Putin ameaça estabilidade russa, diz Gorbachev
Intransigência de Putin ameaça estabilidade russa, diz Gorbachev

No exterior Putin projeta uma imagem pública de aventureiro, homem viril, sempre engajado em atividades perigosas e incomuns. Algumas destas jogadas publicitárias são criticadas ocasionalmente.

Na política interna Putin, visou a criação de um “poder vertical” (sancionou um decreto dividindo as 89 subdivisões da Rússia entre 7 distritos) comandado por representantes nomeados por ele próprio, de forma a facilitar a administração federal.

Dentro da Rússia Putin não teve coragem de pedir perdão em público aos familiares das vítimas do massacre de Beslan pela incompetência das autoridades durante o seqüestro. (331 reféns, entre eles 186 crianças, morreram na escola de Beslan).

Memorial em Beslan (AndreyA)
Memorial em Beslan (AndreyA)

Putin jamais seguirá o exemplo de Mikhail Gorbachev que foi galardoado com um Grammy, juntamente com Bill Clinton e Sophia Loren pela narração conjunta do disco Pedro e o lobo do compositor ucraniano Serguei Prokofiev ( uma versão moderna da história, com intuitos ecológicos – o que vai ao encontro das preocupações ambientais que têm marcado os últimos anos).

Bill Clinton, Mikhail Gorbachev e Sophia Loren são premiados com um Grammy
O impossível também acontece: no filme, Gorbachev narra a introdução e epílogo da história; Sophia Loren narra o conto e Clinton reconta a história sob a óptica do Lobo.

Putin prefere outro: Pedro o Grande, autocrata e imperador de toda a Rússia, que dedicando-se aos estudos militares e náuticos, tinha um lado negro – gostava de acompanhar torturas.

Clinton, Gorbachev e Loren (Theo Wargo/WireImage for PMK/HBH; L. Cohen/WireImage for The Recording Academy; J. Vespa/WireImage)
Clinton, Gorbachev e Loren (Theo Wargo/WireImage for PMK/HBH; L. Cohen/WireImage for The Recording Academy; J. Vespa/WireImage)
Sérgio Campregher
Sérgio Campregher
Sérgio Campregher é historiador pela Uniasselvi/Fameblu e fala sobre política nacional e internacional e curiosidades. Escreve de Blumenau.
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